Covid-19

Em 2020 policiais morreram mais de Covid-19 do que em serviço; aponta estudo

Segundo levantamento, 465 policiais morreram no Brasil em 2020, vítimas da Covid-19.

NE10 Interior
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Publicado em 23/04/2021 às 15:23
Tião Siqueira/ JC Imagem
FOTO: Tião Siqueira/ JC Imagem

De acordo com informações da Polícia Militar e Civil e das secretarias da Segurança Pública dos 26 estados e do Distrito Federal, 465 policiais morreram no Brasil em 2020, vítimas da Covid-19. As informações revelaram que um em cada quatro policiais brasileiros foi afastado das atividades durante a pandemia por apresentar sintomas da Covid-19, fazer parte do grupo de risco ou ter contraído a doença em algum momento.

Os números: 

  • 465 policiais civis e militares da ativa morreram vítimas da Covid-19 em 2020, o número é mais que o dobro do número de agentes assassinados no país que corresponde a 198.

 

  • Os estados com mais policiais mortos pela doença foram Rio de Janeiro (65), Amazonas (50) e Pará (49).

 

  • 126.154 policiais foram afastados da função em algum momento, o que representa 25% do total do efetivo no país.

 

  • Tocantins foi o estado com o maior percentual de afastamentos pela doença: 38% do total.

Ainda segundo as informações, todas as unidades da federação tiveram ao menos um policial morto pela doença no ano de 2020. O número pode ser maior já que na pesquisa não foi levado em conta os primeiros meses de 2021.

Para Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, e Samira Bueno e Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os números revelam o cenário de tragédia do país no enfrentamento a pandemia. Os pesquisadores afirmaram que o país pareceu ignorar que uma quantidade significativa de profissionais de segurança pública trabalham em contato direto com a população e sofrem constante risco de contaminação.

Policiais mortos durante a pandemia: 

O sargento da PM do Rio de Janeiro, Diógenes Moreno de 43 anos, morreu após contrair a doença. Enquanto estava internado, o policial mandou uma mensagem a um amigo alertando sobre o perigo da doença.

O soldado da Polícia Militar Jonathan Felipe Silva de Melo, de 28 anos, não conseguiu concluir o curso de formação da PM. Ele foi um dos 64 contaminados em um surto de coronavírus dentro do 14º Batalhão da Polícia Militar, em Registro, interior de São Paulo. O policial foi internado antes da formatura por complicações da Covid-19 e morreu 10 dias depois de os colegas receberem o diploma. Ele era casado e tinha um filho de 9 anos.

O sargento da Polícia Militar de SP, Erico Rodrigo de Oliveira de 48 anos, sobreviveu à Covid-19 depois de ficar 16 dias intubado na unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Oswaldo Cruz, no bairro Vergueiro, Zona Sul de São Paulo. Quando recebeu alta, saiu com os rins paralisados e quase sem conseguir andar com a musculatura atrofiada.

Rotinas nas corporações: 

Por conta da Covid-19 a rotina das corporações foram modificadas. O levantamento que 126.154 policiais foram afastados das funções em algum momento no ano passado – o que representa 1/4 do efetivo total do país.

Em Pernambuco, a PM, publicou uma série de vídeos com instruções e orientações sobre as medidas de prevenção contra a Covid-19. As cinco gravações, estreladas por agentes da própria corporação, ensinam a forma correta de higienizar a viatura, colocar e tirar a máscara, fazer a higienização após uma abordagem, entre outras dicas.

Além disso, no Mato Grosso, o comandante-geral da Polícia Militar elaborou uma portaria estabelecendo medidas de prevenção para evitar a propagação do coronavírus. Entre as medidas estão uso de álcool, suspensão de cumprimentos, revezamento e redução do expediente para o administrativo, e uma Comissão Especial para Supervisão e Monitoramento do teletrabalho.

Em outros estados como no Rio de Janeiro, a situação foi diferente. A Secretaria de Polícia Militar recebeu críticas por não dar proteção aos policiais no começo da pandemia. Os PMs reclamaram que precisavam comprar equipamentos de proteção contra a Covid-19 por conta própria.

Em Tocantis, estado com maior percentual de policiais afastados, a Polícia Militar afirma que adquiriu Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para o uso da corporação. Além disso, diz que aplicou testes PCR (Swab) diariamente e também fez mais de 5 mil testes rápidos. Eles também disseram que monitorou os policiais durante o tempo em que estavam com a doença e que 100% do “efetivo operacional” já foi vacinado.

***Esse levantamento foi feito pelo Monitor da Violência, G1, o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.