Cultura

Entrevista: Jessier Quirino se apresenta em Caruaru neste sábado

Ana Maria Santiago de Miranda
Ana Maria Santiago de Miranda
Publicado em 07/10/2016 às 16:02

Jessier Quirino faz apresentação neste sábado em Caruaru, no Agreste
Foto: divulgação/Vitor Quirino
O poeta, humorista, escritor e arquiteto paraibano Jessier Quirino apresenta neste sábado (8), às 20h30, o espetáculo "Solto na Buraqueira", no Centro de Convenções (Senac) de Caruaru, no Agreste de Pernambuco. O NE10 Interior conversou com o artista na redação do Sistema Jornal do Commercio Interior. As informações sobre os ingressos estão no fim do texto.

Confira a entrevista:

Como foi o início da sua carreira?

Eu sou natural de Campina Grande e eu acredito que o início da minha carreira começou já a partir da infância, onde eu convivia com pessoas dos sertões, e pelo fato de eu não ser sertanejo, eu ouvia com muita atenção as histórias que esses amigos contavam de caçadas, de aventuras dos sertões. Então eu sempre tive um interesse muito grande pela causa. E depois pela influência do rádio, Campina Grande sempre foi um ponto muito forte na época da juventude, da Rádio Borborema de Campina Grande, ponto de artistas, na época eram muitos, como Luiz Gonzaga, como Coronel Ludugero, como Elino Julião, Marinês e sua gente, Jackson do Pandeiro, isso tudo fazia de Campina Grande um polo desses talentos todos. Então eu me envolvi muito pela coisa do rádio, pelas coisas do Nordeste, e dei as costas para o litoral e fiquei olhando sempre para os sertões. Até hoje eu sou assim, tenho sempre interesse pelas coisas dos sertões. Um pouco mais na frente, eu comecei a declamar poema dos outros e depois passei a fazer o meu próprio poema, mas só comecei a vida artística em 1996 quando publiquei o primeiro livro, então hoje nós estamos com 20 anos de trabalho.

De onde vem sua inspiração?

Na realidade, tudo serve de inspiração, qualquer objeto, qualquer fala, qualquer gesto. A gente tem muito é que anotar para não esquecer. A gente vê coisas interessantes o tempo todo e a partir do momento que aquela faísca lhe desperta, você tem que anotar. Depois é partir para o banco de dados, que é aquela caderneta com aquele monte de anotações, e tentar fazer a construção do causo, fazer a construção do poema, da canção, da música, enfim, eu trabalho em todas essas áreas. Em algumas situações, a construção do processo construtivo é rápido. Em outras situações, torna-se difícil, às vezes até meio cansativo, outros não se concluem, mas é assim, um trabalho como outro qualquer, um trabalho braçal. Não pense que é deitado numa rede empurrando o pé na parede (risos).

Gostaria que você falasse sobre os personagens que você usa

As personagens vêm de um processo quase que de laboratório nos próprios espetáculos. Por exemplo, eu estou com uma história nova aqui, essa história muitas vezes o personagem eu não sei se é homem, não sei se é mulher, não sei o nome ainda. Aí a gente conta a história, quando a história tem uma resposta importante, eu preciso dar um nome a esse personagem para mais na frente servir. "Eu vou contar a história de fulano", então as pessoas já vão saber que história é. Então muitas vezes o personagem vira o título da história, muitas vezes a personagem não aparece como título, porque a história em si tem vários outros personagens que não são citados, então é um tíulo em aberto, mas elas vão surgindo desse trabalho de laboratório, é uma coisa que a gente vai fazendo e à medida que vai havendo o contraponto do público, a gente vai denominando. No meu caso, é muito importante os pequenos recitais que eu faço, que não são necessariamente de teatros com bilheteria, são recitais pedagógicos, palestras para empresas, bate-papo com outros amigos, artistas, porque à medida que a gente vai vendo a resposta de cada apresentação dessa, a gente vai ajustando.

O momento político atual traz ideias para você?

Os políticos estão desempregando a gente tudinho. A gente prepara uma piada, o político vai e toma. Ele toma, ele faz uma piada melhor do que a minha. E outra, a rapidez. Eu passo quatro dias para fazer um texto metendo o cacete na raça todinha, aí para botar no quinto dia. Mas nesses quatro dias já surgem cinco novas histórias, como se estivesse brincando com a cara da gente que fica lidando com essas coisas. Então a gente está perdendo para os políticos. E o matuto diz uma coisa curiosa: política é feito relâmpago, de longe é bonito mas de perto dá medo.

Quais são os próximos passos da sua carreira?

Nós estamos saindo de um processo que foi a gravação do DVD, que apesar de ter sido em 2015, mas era uma coisa muito esperada. Esse DVD foi uma coisa de um período de maturação muito grande. Então esse ano de 2016 a gente ficou trabalhando esse DVD e eu fiquei também me recuperando de um processo cirúrgico que eu tive que passar, e essa recuperação já me deu fôlego inclusive para eu produzir algumas coisas novas. Então nós estamos fechando esses 20 anos, estamos com alguns temas, inclusive um deles é a respeito de rádio, que é um número que eu faço no palco, é um locutor de rádio, só que você está vendo o locutor, tá vendo os papéis na minha mão, tá vendo o texto sendo dito e vocês que estão na plateia são os ouvintes que estão com seus radinhos no ouvido. Então essa é uma novidade que nós já estamos nos programando para fazer uma produção nova de trabalho novo, recente.

Como será o "Solto na Buraqueira"?

O Solto na Buraqueira é um espetáculo que eu venho sozinho, diferentemente de outros que eu trago alguns músicos. Quando nos acompanham, os músicos fazem um arranjo, um fundo musical e tal. O Solto na Buraqueira tem uma produção mais enxuta, então o lado da produção em si é mais exequível. E também é um espetáculo que eu me aproximo mais da plateia, ou seja, o outro eu tenho que me deter a um roteiro fixo por conta dos ensaios com os músicos, então é uma coisa muito contada. E essa eu fico literalmente solto no palco, eu posso dizer uma coisa que não está no roteiro, posso dizer uma coisa que de repente surgiu em função do olhar de um determinado grupo de pessoas, de um senhor do chapeuzão que está lá e eu digo "Aquele cara dava pra gente contar a história daquele vaqueiro", então é uma coisa que eu fico literalmente solto, com poemas novos, com poemas antigos, atendendo aos clássicos também.