A marca da Rede Manchete e o arquivo de mais de 25 mil fitas da emissora, que encerrou suas atividades em 1999, foram arrematados em leilão on-line na tarde desta quinta-feira (14) por valores que somam R$ 500,5 mil. A identidade dos arrematantes não foi divulgada pela Faro Leilões, responsável pelo leilão, até o fechamento desta matéria. Um mesmo usuário - que pode ser uma pessoa física ou jurídica - adquiriu tanto as fitas de telenovelas como também a marca da Manchete.
O leilão foi dividido entre três lotes: a marca da extinta emissora, registrada no INPI, o arquivo de fitas de telenovelas e minisséries e outro arquivo com fitas de programas diversos, como jornalísticos e infantis.
Avaliado inicialmente em R$ 3 milhões, o arquivo de fitas de telenovelas saiu por R$ 240 mil. A marca "TV Manchete", que estava avaliada em R$ 124,1 mil, foi arrematada por R$ 200,5 mil. Já o arquivo de programas diversos, que estava avaliado em R$ 626 mil, foi arrematado pelo lance mínimo de R$ 60 mil.
Houve disputa de lances pela marca nos últimos minutos do leilão, que ficou com o mesmo arrematante do acervo de telenovelas. O pagamento pela marca "TV Manchete" deve ser efetuado em até 24 horas. Já os lances pelos arquivos de fitas ainda precisam ser homologados pela juíza Maria Rita Rebello Pinho Dias, da 3ª Vara de Recuperações Judiciais e Falências de São Paulo, para que depois seja autorizado o pagamento.
Para especialistas em história da televisão, os arquivos de fitas arrematados possuem valor histórico "inestimável". Dentre os mais de 25 mil volumes de fitas analógicas contendo programas como Documento Especial e Bar Academia, novelas como Pantanal, Dona Beija, A História de Ana Raio e Zé Trovão e Kananga do Japão, foram arrematados. Novelas exibidas pela Manchete após 1995, como Xica da Silva e Tocaia Grande, não foram arrematadas neste leilão porque pertencem à outra empresa do Grupo Bloch, a Bloch Som e Imagem, uma das poucas empresas que sobreviveu à débâcle do conglomerado.
Além do arquivo de fitas e da marca, outros dois ativos da Manchete também foram leiloados recentemente: um imóvel em Belo Horizonte (MG), na Serra do Curral, arrematado por R$ 761 mil, e os escombros da antena transmissora de Olinda (PE), projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer e avaliada em R$ 788 mil. O leilão desse imóvel, que ainda não recebeu lances e foi ocupado por moradias irregulares há quatro anos, se encerra na próxima segunda-feira (18).
Dívidas e processos trabalhistas
O passivo da Manchete é estimado em pelo menos R$ 115,7 milhões - a conta inclui apenas os credores que se habilitaram no processo de massa falida da empresa, que começou em 2002. O valor deve servir para pagamento de uma parcela de créditos trabalhistas de ex-funcionários da Manchete que estão habilitados na massa falida da emissora carioca.
Quando encerrou suas atividades, em maio de 1999,a rede devia mais de seis meses de salários a mais de 1,5 mil funcionários, além de um grande passivo trabalhista e fiscal. As concessões da Manchete foram transferidas para a Rede TV!, dos empresários Amilcare Dallevo Jr. e Marcelo de Carvalho, que foi inaugurada em novembro de 1999. Durante as negociações com Dallevo e Carvalho, a empresa TV Manchete - equipamentos, arquivo de fitas e passivos - foi vendida à Hesed Participações, do empresário Fábio Saboya, que esperava renegociar dívidas e vender debêntures no mercado. O projeto não deu certo e a Manchete faliu.
Ações na Justiça passaram a correr contra a Rede TV!, defendendo que a emissora era sucessora legal da Rede Manchete e deveria se responsabilizar pelos débitos da antecessora. Em 2009, a 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça decidiu que a Rede TV! não poderia ser considerada sucessora do canal da família Bloch, estando isenta de dívidas trabalhistas, mas as disputas ainda seguem em outras varas do Judiciário.
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