'Pix errado': entenda novo golpe e saiba como não ser enganado
Com um volume tão significativo de transações, é natural que algumas possam ser realizadas por engano. Entenda como é aplicado o golpe
Com o crescimento da utilização do Pix para pagamentos e transferências, surgem também relatos crescentes de golpes que visam prejudicar clientes bancários.
Um dos golpes mais recentemente divulgados nas redes sociais é conhecido como golpe do Pix errado.
Abaixo, explicamos como os criminosos operam essa estratégia fraudulenta e como se proteger dessas tentativas de golpe.
O golpe
O Pix alcançou um novo recorde de transações na última sexta-feira (5), com um total de 224 milhões de transferências entre contas bancárias, conforme dados do Banco Central (BC). Com um volume tão significativo de transações, é natural que algumas possam ser realizadas por engano.
Nesse contexto, golpistas têm explorado o chamado golpe do Pix errado. A estratégia começa com os fraudadores realizando uma transferência para a conta da potencial vítima, utilizando uma das chaves Pix, que muitas vezes é um número de telefone celular obtido facilmente.
Logo após a transferência, os golpistas entram em contato com a vítima por meio do número de telefone, seja por ligação ou mensagem de WhatsApp. Eles tentam convencer a pessoa de que a transferência foi um equívoco e utilizam técnicas persuasivas para solicitar a devolução do dinheiro.
Um relato típico envolve a narrativa de que o dinheiro deveria ter sido enviado para outra pessoa, como no caso de um usuário do antigo X (Twitter) cuja mãe recebeu um depósito de R$ 600 erroneamente.
Para tornar o golpe mais eficaz, os golpistas pedem que a vítima devolva o dinheiro para uma conta diferente daquela utilizada na transferência inicial. A principal armadilha é induzir a vítima a agir com base na falsa urgência e no desejo de corrigir o suposto erro rapidamente.
A melhor maneira de se proteger é verificar sempre se a transferência realmente foi feita para sua conta bancária, utilizando o extrato bancário para confirmar. Se houver dúvidas sobre a veracidade da solicitação de devolução, é essencial entrar em contato diretamente com o banco ou com o serviço de atendimento ao cliente para verificar a situação antes de realizar qualquer nova transferência.
Estorno
O prejuízo ocorre quando, além de persuadir a vítima, o golpista se aproveita do Mecanismo Especial de Devolução (Med), uma ferramenta criada para mitigar fraudes no Pix.
Esse mecanismo exclusivo facilita devoluções em casos de golpes, oferecendo à vítima a possibilidade de recuperar os recursos. Os criminosos, porém, manipulam o processo ao alegar terem sido enganados pela própria vítima.
A transação contestada passa por análise. No entanto, quando os bancos percebem que a vítima recebeu e posteriormente transferiu o valor para uma terceira conta, interpretam essa triangulação como indicativo de fraude.
Isso resulta na reversão automática do valor do saldo da vítima, mesmo que ela tenha devolvido voluntariamente o dinheiro. Assim, o golpista obtém uma segunda devolução, causando prejuízo adicional à vítima.
Caso se descubra que caiu no golpe, a vítima pode acionar o mecanismo de devolução. Contudo, a conta que recebeu os fundos transferidos por engano pode já estar vazia, sem saldo disponível para restituir o prejuízo.
Botão “devolver”
O Banco Central orienta claramente sobre como proceder ao receber um Pix por engano, esclarecendo que não há regulamentação específica para devoluções por erro do pagador, mas que o Código Penal aborda o crime de apropriação indébita desde 1940.
Para devolver um Pix recebido erroneamente, o cliente deve acessar o aplicativo do banco e utilizar a função "devolver". Esta opção difere de uma nova transferência, pois reverte o valor diretamente para a conta de origem do Pix inicial.
Essa ação não configura irregularidade, pois visa desfazer tentativas de fraude, mesmo que o golpista tente usar o mecanismo de devolução para seus próprios fins.
Med 2.0
Em junho, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) anunciou uma proposta ao Banco Central para aprimorar o Mecanismo Especial de Devolução (MED), que atualmente bloqueia fundos fraudulentos apenas na conta receptora inicial, conhecida como primeira camada, suscetível a ser esvaziada pelos golpistas. Com o MED 2.0, está prevista a expansão do rastreamento e bloqueio para múltiplas camadas.
"Observamos que criminosos rapidamente dispersam fundos provenientes de golpes e crimes em várias contas. Por isso, é crucial melhorar o sistema para alcançar mais camadas", explicou Walter Faria, diretor-adjunto de Serviços da Febraban, na ocasião.
De acordo com a federação, o desenvolvimento do MED 2.0 está planejado para ocorrer entre 2024 e 2025, com implementação prevista para 2026.