Chegou a hora de levar um tapa e abrir os olhos

Por Igor Maciel
Por Igor Maciel
Publicado em 29/06/2010 às 9:30

Muitas vezes, a tapa em nossa cara serve para que olhemos de lado, com o impacto da pancada, e possamos perceber o irmão que vive alí e nunca tínhamos observado.

Nos últimos dias, nós na TV Jornal passamos por uma experiência emocionante. De criadores de conteúdo, passamos também ao papel de espectadores. E as cenas que assistimos todos os dias, são de emocionar qualquer um.

Em uma das minhas saídas para o almoço, fiquei feliz ao encontrar um empresário que veio de caminhão deixar centenas de quilos de doações. Eram roupas, calçados, alimentos.

Na volta, mais uma surpresa. Um senhor, com a roupa suja de graxa, por volta de seus 70 anos, encostava uma bicicleta. Desceu, humildemente, catou no bagageiro um pequeno pacote e entregou na portaria da TV. Era um punhado de açúcar. Chovia bastante e ele saiu pela BR 104, de volta para a cidade, com um sorriso no rosto. Satisfação de quem agiu com humanidade.

Nos últimos dias, nós na TV Jornal, nos tornamos espectadores da esperança renascendo no seio do povo de Pernambuco. A essência desse povo em que, alguns já se acostumaram com a miséria e outros já acostumaram com a cegueira. Quem tem dinheiro, vive cego para os problemas do irmão. Quem não tem, acostumou com a condição.

Depois da tragédia, os cegos ficaram menos cegos, os conformados enxergaram melhor. Porque no fim das contas, conformismo e cegueira social são problemas de visão.

Esse texto poderia ser uma cobrança ao governo pelo pouco que foi feito no enfrentamento à catástrofes nos últimos anos.

Poderia ser uma cobrança aos órgãos públicos pelo quase nada que foi investido no meio ambiente, na recomposição da mata ciliar que fica nas margens dos rios e poderia evitar essas tragédias. Poderia ser uma reclamação a nossa atitude contra os rios que, na chuva, acabam nos respondendo dessa forma.

Mas hoje não é dia de reclamar. É dia de enxergar melhor.