A tragédia começa nos gabinetes

Por Igor Maciel
Por Igor Maciel
Publicado em 05/07/2010 às 16:27

Somente a uma natureza podem ser atribuídas tragédias como as que aconteceram em Pernambuco e Alagoas, a humana.

Isso porque não foi um fato isolado e único na história desses dois Estados. Aliás, é comum nossas equipes de reportagem que visitam os locais diariamente escutarem frases como: “essa foi maior que a de 2003”, “nessa enchente a água subiu mais do que em 2000”.

É difícil de acreditar que, com a frequência do desastre, as vítimas continuassem vivendo na mesma área. Mas isso acontece, e acontece por falta de gestão pública.

Coincidência ou não, o ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima, que fazia parte do governo Lula, é candidato a governador por lá.

O que os governos poderiam fazer para controlar as chuvas? Não dá pra controlar as chuvas. Mas dá pra se antecipar a ela. Vamos aos números:

Em 2010, o Governo Federal separou mais de R$ 500 milhões para distribuir com os Estados, o objetivo era prevenir catástrofes como essa de Pernambuco e Alagoas. Mas só R$ 71 milhões foram liberados, 14% do total. Para piorar, desses R$ 71 milhões, R$ 40,5 milhões foram entregues ao estado da Bahia. Coincidência ou não, o ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima, que fazia parte do governo Lula, é candidato a governador por lá.

Na Bahia a única tragédia foi o mau uso do dinheiro público. Por aqui, morreram mais de 50 pessoas, até agora. A enchente não teria sido evitada, mas as mortes sim. Essas pessoas morreram porque não houve tempo para avisar a todos que uma onda gigantesca havia se formado e engoliria as cidades. Do momento em que as chuvas começaram, no alto das barragens, até a devastação, passaram-se horas.

Em Pernambuco e Alagoas, a chuva foi a mesma, os problemas foram distintos. Pernambuco não teve dinheiro (que ficou na Bahia) para comprar satélites de monitoramento. Aqui ninguém sabia que a precipitação seria tão forte. Apesar disso, quando se percebeu as barragens estouradas, houve um curto tempo para retirar a maioria das famílias do curso da água. O Estado tem uma Defesa Civil bem montada. Se não, a tragédia poderia ter sido maior.

Já o estado de Alagoas comprou equipamentos de monitoração por satélite. Eles sabiam com a devida antecedência o que poderia acontecer. Mas, ironia do destino, Alagoas não tem Defesa Civil. Não houve quem avisasse à população que estava no caminho das águas.

Fora isso, persiste a total inoperância dos governos municipal e estadual quanto à construção de prédios nas margens dos rios.

O brasileiro paga uma das mais altas taxas tributárias do mundo. Seria bom se o dinheiro fosse utilizado onde ele é necessário para o brasileiro e não para governos, partidos políticos e ex-ministros.

De todas as naturezas, a que mais prejudica o povo é a natureza humana. Principalmente quando está travestindo a natureza política dos nossos governantes.