Cada um tem o palhaço que merece

Por Igor Maciel
Por Igor Maciel
Publicado em 16/09/2010 às 12:39

Este ano, durante o carnaval, uma agremiação do Recife lançou uma festa em homenagem à cidade de Brasília. O título da festa: “Se construir muro, vira presídio. Se cobrir com lona, vira circo”. Parecia um aviso.

Em outubro teremos eleições para cargos importantes. Iremos dar votos, cada um, para escolher seis funcionários que irão administrar nosso Estado, nosso país. Funcionários, sim, porque esses homens e mulheres ganham salário que sai do nosso bolso, dos nossos impostos.

Pena que a maior parte da população não enxergue isso. Carregam ainda a ideia de que os políticos estão alí fazendo o favor de nos administrar. Ingenuidade da população, ingenuidade dos políticos também, porque fingem que são o que não são e, cedo ou tarde, terão que prestar contas daquilo. O povo gosta hoje, amanhã não gosta mais. Porque, na verdade, o processo político não passa de um grande fingimento. De todos os lados.

E não venham reclamar os “democratas”, que se sentem exilados e vítimas da ditadura sem nunca ter sofrido nada de efetivo. Esperar na fila pra comprar carne não é sofrer com a ditadura. Até porque já estávamos em Estado Democrático. Era o governo Sarney.

Aliás, a nova democracia começou muito bem. Nossos dois primeiros presidentes foram e são ainda sinônimos de ladroagem e vigarice. O terceiro era um asno. O quarto vendeu o Brasil e o quinto vendeu a si próprio pra poder governar o Brasil. Temos uma bela democracia.

Por falar em democracia, o pleito de 2010 pode entrar para a história como a eleição mais realista da política brasileira. Se as pesquisas forem ratificadas pelas urnas, teremos o maior número de palhaços eleitos em uma única votação.

Tiririca que, poucos sabem, atuou muito em Caruaru, por muitos anos quando ainda não passava de um palhaço de pequenos circos, dedicou a vida a alegrar os brasileiros. É o compositor de clássicos como Florentina de Jesus e de um bordão que virou febre no Brasil, durante a campanha: “Pior que tá, num fica”.

Engano dele. Fica pior sim. E é preciso tratar isso com seriedade.  Com a mesma seriedade que é necessário tratar candidatos sabidamente, comprovadamente, ladrões, corruptos e de caráter duvidoso.

Criaram uma nova lei: Ficha Limpa. Nosso país é a terra das leis que são feitas para que sejamos obrigados a cumprir leis que já existiam. Ficha Limpa, Lei Seca, Lei Maria da Penha. Desde quando bater em mulher era permitido? Desde quando dirigir embriagado era algo normal para a lei? Desde quando político condenado podia se candidatar?

Alguns devem dizer “nunca”, outros devem dizer “desde sempre”. E todos estão certos. Isso nunca foi permitido por lei, mas sempre foi visto na prática. Mudou algo? A publicidade. Somente isso, porque políticos continuam recorrendo da Ficha Limpa e pedindo votos. Homens continuam batendo em mulheres, por falta de vergonha da sociedade e motoristas continuam dirigindo embriagados, por falta de fiscalização.

Eu posso dizer que você vai mudar isso votando em outubro e escolhendo políticos sérios. Que políticos sérios? São raros. E as pessoas não estão muito propensas a levar a sério uma votação.

O primeiro lugar nas pesquisas em São Paulo, para deputado, é de Tiririca. Maluf está entre os cinco primeiros. Tem um cantor de pagode que fala miando e se envolveu em escândalos financeiros nos últimos meses, e é um dos favoritos ao Senado.

Em Pernambuco, não há pesquisas, mas há candidaturas absurdas também. Basta dar uma olhada nos jornais, ou no guia eleitoral. Quem acompanha a história política do Estado sabe disso.

A propósito, nós gastamos do nosso bolso, dos nossos impostos, cerca de R$ 7 milhões, por ano, com cada um dos 513 deputados que elegemos. Cada um dos 81 senadores leva, do nosso bolso, R$ 34 milhões por ano.

Minha mãe sempre disse que gastar dinheiro com o que não presta era burrice.

A eleição então seria uma grande confraternização de gente burra comprando o que não presta.