Eles não têm dó, piedade e muito menos coração...

Por Dilson Oliveira
Por Dilson Oliveira
Publicado em 21/11/2010 às 11:26

As cenas presenciamos esta semana pela tevê, de famílias deixando o Parque João Vasconcelos Sobrinho, em Serra dos Cavalos, após décadas morando, criando famílias, e tirando o próprio sustento do cultivo de hortaliças no local, foram de dá dor, e de ter certeza de uma coisa: eles não tem dó, nem piedade.

Quando digo “eles”, me refiro aos “supostos” políticos intelectuais, que fizeram a denúncia; o Poder Público, que aceitou tudo, quase de olhos fechados, sem muito fazer, para evitar tamanho constrangimento, sob o argumento de que teria que cumprir a lei; e o Poder Judiciário, que decretou a sentença.

Existem casos em que agricultores estavam no local há mais de 60 anos. E num caso desses fica a pergunta: o que eles irão fazer da vida de agora em diante ?

É bom lembrar que toda essa polêmica começou com uma ação impetrada na justiça pelos dirigentes locais do PV, o Partido Verde, sob a alegação de que o local estava estava sofrendo as intervenções do homem.

Até aí tudo bem, que se busque a preservação da natureza, que se preserve o local, mas desumanidade também tem limite, e aí é onde eu digo que eles não têm dó, piedade, e muito menos coração.

Será que não seria possível desenvolver um projeto de preservação do meio ambiente com a participação direta de quem nasceu, se criou e tira o próprio, e sustento de sua própria família daquele local, no caso, os posseiros ?

Com orientações exigindo a não utilização de agrotóxicos; aulas de preservação ambiental e de meio ambiente; a proibição da entrada de novos posseiros; e a proibição da exploração do local por indústrias; tenho certeza que sim. Isso seria possível. Bastava ter boa vontade e interesse público.

E o mais interessante em tudo isso, e nessa polêmica da retirada dos posseiros, o mais grotesco foi ver a Procuradoria do Município afirmar na Tv Jornal, com a maior simplicidade do mundo, que os posseiros passarão a viver de um salário mínimo referente a auxílio aluguel, doado pelo município por cinco meses; enquanto um novo local para onde serão levados, fique pronto.

Na teoria é muito fácil falar. Na prática a situação é completamente diferente, senão vejamos: estas casas para onde os posseiros serão transferidos sequer tiveram suas construções iniciadas; e conseguir utilizar os recursos do Fundo Municipal do Meio Ambiente, não é tão fácil, quanto se pensa; na verdade é outra dificuldade, e por aí vai...  

Depois do que vimos, não nos admiremos se encontrarmos em breve, posseiros perambulando e morando pelas ruas por não ter aonde ir; pedindo esmolas nos sinais e cruzamentos da cidade; e culpando, e se isso fizer, faz bem; a administração municipal.

Como quem fez a denuncia; quem poderia ter feito algo mais, e não fez; e quem decretou a sentença; nunca pegou no cabo de uma enxada, nem tão pouco sabe o que é cultivar um pé de coentro; é muito fácil encarar a situação com naturalidade.

Se coloquem no lugar dos atingidos diretamente, que saberão que a coisa não é tão simples quanto se pensam.

E como para toda lei existem brechas, ainda há tempo de se corrigir tamanha crueldade, basta tão somente querer...