Um pedaço da história e da cultura de Caruaru destruído

Por Dilson Oliveira
Por Dilson Oliveira
Publicado em 27/01/2011 às 15:09

O assunto de hoje não poderia ser outro: a demolição da Vila do Forró, no Parque de Eventos Luiz Gonzaga, em Caruaru, agreste pernambucano.

Quero falar sobre o assunto, pela polêmica de tal iniciativa, pela forma como foi praticado, cercado de contradições, desinteresse público, sem projeto definido para o futuro, e diante da revolta popular.

É bem verdade que o local foi construído há mais de 15 anos e que era um dos mais visitados pelos turistas e caruaruenses durante o período junino; estava abandonado. E não foi apenas pelo atual governo. Nem João, nem Tony, nem Manoel, nem José, fizeram muito para verdadeiramente fazer aquele espaço funcionar o ano inteiro.

Portanto, abandonado pelos nossos últimos governantes e inclusive pelo seu criador, a nossa Vila do Forró, virou facilmente alvo dos vândalos, dos drogados, ponto de prostituição, marginais e nunca foi de fato a Vila do Forró, que todos sonhavam.

Mas se era desse jeito, porque tanta polêmica diante do tsunami que passou pelo local? E eu mesmo respondo: pela maneira como tudo aconteceu.

Se existe dinheiro para construir tudo de novo, não seria mais fácil recuperar, preservar e fazê-la funcionar de verdade?!

Se de fato existe projeto claro para revitalizar toda a área, porque não foi apresentado e discutido com a sociedade, comerciantes, classe artística, vereadores e todos os segmentos envolvidos?

A pressa da Prefeitura na ação da Vila do Forró, mais pareceu uma afronta ao poder judiciário

Precisava o prefeito fugir dos oficiais de justiça para não receber a notificação da justiça embargando a obra de demolição do local - conforme disse o vereador Diogo Cantarelli em entrevista, e executá-la “na calada da noite”, como tudo aconteceu?

Porque não se respeitou o direito dos comerciantes, de pelo menos poder tirar dos seus estabelecimentos seus pertences, dentro do prazo que lhe foram dados? 

São perguntas que o Poder Público Municipal poderia responder, mas a esta altura do campeonato nem precisa, porque agora não há mais o que fazer. É limpar a área e bola pra frente. Infelizmente, a Câmara de Vereadores e o Poder Judiciário agiram tarde demais. Foram alertados, mas demoraram a agir.

Projetos na cidade existem demais. Lamentavelmente poucos saem do papel. É projeto de revitalização do Morro Bom Jesus, projeto de revitalização do Alto do Moura, projeto de revitalização do Parque 18 de Maio, projeto de revitalização do Parque de Eventos. Parece até que o município “nada” em dinheiro, ou que aqui temos um sócio do Banco Central, que disponibiliza os recursos que precisamos e na hora que queremos. Porém, quase nada vira realidade.

Agora é torcer e acreditar que esse “futuro” projeto saia verdadeiramente do papel, diferentemente dos muitos outros que ficam apenas nos sonhos e que o espaço sejam bem utilizado pela população.

E como o povo não tem memória, daqui há alguns dias nem se recordarão dessa polêmica. Eu, entretanto, não me esqueço que há alguns anos criou-se uma polêmica semelhante com a destruição de cerca de dez metros da mureta da Estação Ferroviária para a abertura de uma rua visando melhorar o trânsito da cidade.

Até hoje tudo continua do mesmo jeito, e hoje nem se fala mais nisso. Mas em uma coisa dá para acreditar: a pressa e atitude da Prefeitura na ação da Vila do Forró, mais pareceu uma afronta ao poder judiciário.

Que aguardemos os fatos, e bom São João, sem a Vila, mas com forró!