Caruaru: a virtú do governo e a fortuna do povo

Por Igor Maciel
Por Igor Maciel
Publicado em 10/02/2011 às 14:10

Existem coisas na atual gestão da prefeitura de Caruaru que merecem um estudo aprofundado sobre a diferença entre ação e discurso. O discurso carrega uma facilidade, pois não depende de atos. Depende apenas de paixão. Principalmente quando falamos de política.

Em 2008, o então candidato a prefeito José Queiroz levantava uma bandeira. A reconstrução da Praça do Rosário, “do jeito que o povo de Caruaru merece”. No discurso, tratava o corte da praça, com o objetivo de passar uma rua por ali, como se isso fosse uma aberração. “Um equipamento de lazer, símbolo de Caruaru, ser destruído dessa forma”. Realmente, um absurdo.

Na ocasião, a ideia da gestão era abrir uma rua e melhorar o trânsito caótico no local. A justificativa era modernizar a cidade.

Houve outros discursos. Resolver a situação do Parque 18 de maio foi um deles. A transferência da feira da sulanca é um caso típico de “discurso moldável”. Primeiro ela iria sair, depois talvez saísse, depois o secretário dizia que o prefeito mandou tirar, o prefeito não confirmava e, até agora, ninguém sabe o que será feito.

São exemplos. Precisa citar a saúde municipal? Quem acompanha o noticiário ou precisa de um médico, já conhece o problema. A prefeitura reclama que não há profissionais. O curioso é que anteriormente eles estavam lá. Para onde terão ido? Os assessores tentam ligar as denúncias à briga política, como se isso fosse desculpa plausível para o sofrimento das pessoas.

A atual administração limitou-se, a organizar o trânsito. Fez isso bem. As placas estão bonitas. Aliás, placas e urbanismo é uma especialidade do prefeito. A cidade está cheia de placas de obras atrasadas por problemas em projetos.

É o caso do terminal do transporte alternativo. No projeto esqueceram que o rio Ipojuca passa ao lado. Tiveram que refazer. É o caso da internet nos bairros. Lançada com todo alarde e que dificilmente se encontra alguém que a use. O sinal é quase inexistente. Ficou no discurso.

Assim como a atitude preservacionista do prefeito, de alguém preocupado com a tradição da cidade, também ficou no discurso sobre a praça do Rosário. Lá ele cumpriu, fez um belo equipamento de lazer, com iluminação, estrutura e segurança. Mas fez o que fez com a Vila do Forró.

Deixou que fosse destruída com o mesmo discurso que os antecessores usavam: modernizar. Fez o mesmo que criticou, sem escutar a população e sem respeitar a tradição do local. O problema do discurso e da ação é que o primeiro exige perspicácia, mas a ação exige sorte, coragem e atitude.

Maquiavel relaciona duas coisas que todo governante precisa ter. “Virtú” e “Fortuna”. “Virtú” é a capacidade de mudar, de transformar, de agir. “Fortuna” é a sorte, a oportunidade, o momento. O povo de Caruaru elegeu seu governante e deu a ele todo o apoio, toda a “Fortuna” necessária para que ele usasse sua “Virtú”.

Muito foi feito, é verdade. Mas a “Virtú” tem que ser do mesmo tamanho que a “Fortuna” para haver equilíbrio.

O povo de Caruaru ainda está esperando!