RETROSPECTIVA 2013

Faltam provas e sobram dúvidas sobre morte do promotor Thiago Farias

Do NE10
Do NE10
Publicado em 27/12/2013 às 17:59

Já faz mais de dois meses que o promotor de Itaíba, Thiago Faria Soares, de 36 anos, foi friamente assassinado com quatro tiros de espingarda 12 na cabeça no pescoço. Infelizmente, ao que parece, o crime que chocou a sociedade pernambucana ainda está longe de ser esclarecido. Faltam provas e sobram dúvidas.

O promotor foi morto, no dia 14 de outubro, dentro do próprio carro, na rodovia PE-300, na cidade de Itaíba, no Agreste de Pernambuco. Ele dirigia o carro e estava acompanhado da noiva, Mysheva Freire Ferrão Martins, e do tio dela, Adautivo Elias Martins, quando outro automóvel teria se aproximado e, dele, saído os tiros. Mysheva, que estava no banco do passageiro, e o tio, sentado atrás, conseguiram escapar sem qualquer ferimento.

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Corpo de Thiago foi velado em prédio do MPPE no Recife. Foto: Amanda Miranda/NE10

A matéria sobre o crime foi uma das mais lidas do NE10 e eleita pelos internautas, através da fan page do portal, como destaque entre as notícias publicadas na editoria Interior em 2013.

A grande repercussão pressionou a Polícia a esclarecer o caso e, apenas dois dias após o ocorrido e, com base exclusivamente no depoimento de Mysheva - considerada a principal testemunha ocular do assassinato -, dois homens foram apontados como acusados de praticar o crime: o agricultor Edmacy Cruz Ubirajara, 47, que seria o autor dos disparos, e o fazendeiro José Maria Rosendo, 52, o mandante.

Segundo a polícia, o fazendeiro José Maria estaria envolvido em uma disputa de terra com o pai da noiva do promotor. Ele teria sido expulso do terreno após decisão judicial em favor da família de Mysheva. O processo de reintegração de posse teria o envolvimento do promotor Thiago Faria, que chegou a ser advertido pela Corregedoria Geral do Ministério Público de Pernambuco. A transferência de Thiago para atuar em outra cidade já teria sido anunciada.

Essas foram as últimas informações apresentadas pelas autoridades. Diante das muitas especulações sobre a ausência de provas que fundamentassem o inquérito, a Polícia Civil e o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) fizeram um pacto de silêncio e decidiram manter a investigação em sigilo.

ACUSADOS - No dia 28 de outubro, familiares de José Maria, que está foragido, divulgaram vídeo onde o fazendeiro afirmava ser inocente. Nas imagens entregues à TV Globo em um cartão de memória, o fazendeiro negou qualquer rivalidade com a família da noiva do promotor e garantiu que iria se apresentar à polícia "no momento certo". As imagens teriam sido registradas poucos dias após o crime, num local escuro e não identificado.

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Acusado de ser o mandante do crime, o fazendeiro Zé Maria permanece foragido

Já o agricultor Edmacy Cruz Ubirajara, cunhado do fazendeiro, se entregou logo após a acusação apresentada pela polícia, mas foi solto no último dia 18 de dezembro por falta de provas que sustentassem sua prisão. A família do agricultor também entregou à polícia contatos de testemunhas e imagens de uma câmera de segurança para provar que Edmacy estava em outro local na hora do crime.

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No último dia 18, Edmacy foi solto por falta de provas que sustentassem sua prisão. Foto: Wagner Sarmento/JC

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Família do suspeito reuniu imagens que mostram o trajeto do agricultor no horário do crime

Até agora, nem a arma (tudo indica que uma espingarda calibre 12) nem o carro utilizado no crime (um Corsa Hatch escuro, talvez cinza, verde ou preto) apareceram. Ambos são provas importantes para esclarecer o assassinato a partir da versão apresentada por Mysheva Martins. Também não se tem notícia das perícias técnicas.

RECONSTITUIÇÃO DO CRIME
- Ainda sem respostas concretas, no último dia 23 de dezembro, a Polícia Civil de Pernambuco tentou reconstituir as últimas horas de vida e o assassinato do promotor. Os advogados do agricultor Edmacy Cruz Ubirajara (apontado como autor dos disparos) solicitaram que ele não participasse da reconstituição. A defesa alegou que Edmacy não estava na cena do crime descrita pela noiva do promotor.

Na reconstituição, três policiais civis atuaram como os suspeitos - um no volante do carro e dois como passageiros. Mysheva e o tio dela, Tautivo Martins, que estavam no carro do promotor, também participaram. A noiva do promotor caiu no chão da mesma forma como disse haver caído no dia do crimeo, voltou a se desesperar e chorou. A investigação continua.