Reciclagem

Artesanato 'sustentável' à venda no Tareco e Mariola em Belo Jardim

André Luiz Melo
André Luiz Melo
Publicado em 18/07/2014 às 11:30

Local funciona às margens da BR-232 em Belo Jardim, no Agreste
Foto: André Luiz Melo
Painéis decorativos em retalho, brinquedos feitos com restos de peças de carro, imagens e utensílios em barro, objetos decorativos produzidos com tubos de papelão e revestidos com farelo de casa de ovo. Esses são apenas alguns dos milhares de artigos que podem ser encontrados no Centro de Artesanato Tareco e Mariola. O espaço, fundado em dezembro de 2006, fica às margens da rodovia BR-232 em Belo Jardim, município localizado no Agreste de Pernambuco e distante 185 quilômetros do Recife.

O local, onde estão expostos objetos recicláveis fabricados por 48 artesãos da cidade e zona rural, foi criado a partir do Projeto Tareco e Mariola, iniciativa idealizada em 1999 e desenvolvida pela fábrica de baterias Moura, indústria cuja matriz de produção está sediada no município. Todos os produtores fazem parte da Associação dos Recicladores e Artesãos (ARA), que a partir da coleta mensal de cerca de 50 mil quilos de lixo reciclável transformam papelão, plástico, papel, tecido, entre outras matérias-primas, em arte e criatividade que são colocadas à venda no Centro de Artesanato.

Atualmente acumulando a função de gerente do local, a artesã natural de Petrolândia, Sertão do Estado, Maria do Socorro, 50 anos, deixou suas origens em 1982 quando se mudou para Belo Jardim, cidade que adotou como terra do coração e local onde passou a desenvolver a habilidade de fabricar artesanato. Com semblante entusiasmado por falar sobre o que gosta de fazer, Socorro define os produtos expostos no Tareco e Mariola como algo além do artesanato tradicional. Nosso trabalho é todo reciclado do lixo e da natureza. São trabalhos decorativos e utilitários, explica.

PRODUTOS Na composição dos painéis decorativos, um dos artigos vendidos no Tareco e Mariola, retalhos e juta fibra têxtil vegetal extraída de uma planta da família das Tiloidáceas se transformam em representações da cultura local e nordestina. A frente dessa produção, Socorro já fez peças que retratam o típico Araiá do Nordeste, as festas locais, o carnaval pernambucano e até uma representação da história contada no filme 'O Alto da Compadecida, painel o qual foi dado de presente ao autor da trama, o escritor pernambucano Ariano Suassuna. Já tive o prazer de confeccionar painéis retratando eventos da cidade, como a procissão do padroeiro São Sebastião, além de outro [painel] do Carnaval de Olinda, destaca.

Bonecas de pano estão à venda no centro de artesanato
Foto: André Luiz Melo
Parecido com o 'fuxico' pequenos adereços de tecido em formato arredondado , Socorro conta que ela, juntamente a outras artesãs locais, deram origem a um adereço batizado de 'fofoca'. O artigo, também em formato circular, se diferencia por ser composto de restos de pano e barbante em formato espiral. O motivo do nome, segundo a artesã, vai além da semelhança com o já conhecido 'fuxico'. Quando pensamos em nomear [a criação], lembramos, principalmente, da Festa das Marocas [evento cuja origem vem de três mulheres fofoqueiras da cidade], aqui de Belo Jardim. Daí associamos a tradição ao nosso artigo e nomeamos de fofoca, conta.

Ainda na elaboração de produtos a base de restos de tecidos, a artesã faz questão de enaltecer a produção de bonecos, os quais variam de um simples brinquedo medindo centímetros até corpos de pano no mesmo tamanho de um ser humano. Há algum tempo atrás, produzi bonecos no tamanho de uma pessoa para um arraiá junino da ornamentação do Shopping Guararapes, no Recife, relembra Socorro que em 2012 recebeu prêmio na galeria de reciclados da Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte). A conquista foi possível através da representação de uma iguana, réplica esculpida em arame e revestida em retalho.

Com traços de delicadeza e ao mesmo tempo perfeição no manuseio da argila, se destacam ainda no Centro de Artesanato Tareco e Mariola os produtos em barro. São artigos como imagens de santos, réplicas de animais, cabeças decorativas, além de vasos, panelas, pratos, bandejas, xícaras e outros utensílios domésticos. As peças saem por um preço que varia de R$ 15 até R$ 200.

No local também é possível encontrar artigos decorativos feitos com tubos de papelão e cobertos com farelo de casca de ovo. Os enfeites são comercializados por valores entre R$ 15 e R$ 80. Produtos feitos a partir das sobras de couro animal também ganham notoriedade. Entre os mais vendidos, estão tapetes e flores decorativas. De R$ 5 a R$ 205 é a variação de preço estipulada para a gama de artigos feitos com a matéria-prima.

Brinquedos e enfeites elaborados com peças de automóveis descartadas também são expostos à venda no espaço, assim como objetos feitos em madeira e restos de revistas e jornais. Uma clara demonstração de criatividade somada ao reaproveitamento do que não serve mais para o consumo humano. Destaque para abajus criados com sobras de madeira, bambu, corda e filtro de motor de carro, além de baús e bolsas fabricados apenas com lacres de caixas de baterias automotivas.

Objetos são revestidos com casca de ovos
Foto: André Luiz Melo
Deixando de lado a moda dos sofisticados móveis planejados, o Centro de Artesanato também comercializa os rústicos e artesanais móveis produzidos com tubos de papelão e revestidos em verniz. Estantes, balcões, mesas, cadeiras, puffs, centros, entre outros objetos para mobília, compõem o estoque do Tareco e Mariola. Os produtos, que custam entre R$ 34 e R$ 370, também podem ser feitos por encomenda.

Questionada sobre a quantidade exata e a variedade de peças expostas no Centro, Socorro diz que é difícil contabilizar. Não dá nem para especificar, catalogar. Aqui temos milhares de artigos, afirma. De acordo com a artesã, o espaço já enviou centenas de produtos para exposições nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Rio Grande do Norte, além da Fenearte, em Pernambuco. No exterior, artigos já foram comercializados em países como França, Itália e Alemanha.

OPORTUNIDADE Trabalhando há mais de cinco meses como jardineiro no Tareco e Mariola, o jovem Jakson Pereira, 18 anos, descobriu há pouco mais de dois meses o gosto pelo artesanato. Convidado por Socorro para nas horas vagas do serviço ajudar na confecção de objetos artesanais, ele expressa o quanto o trabalho já se tornou prazeroso. Estou gostando muito e quero continuar. Aqui [na produção de artesanato] é bem melhor e mais gratificante que trabalhar no jardim, frisa o jovem enquanto está produzindo uma cortina feita com cortiça, bolas de isopor e fios de nylon.

SERVIÇO O Centro de Artesanato Tareco e Mariola fica localizado às margens da rodovia BR-232, no quilômetro 189, sentido Recife interior. O local é aberto ao público de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, e aos sábados das 8h às 12h. Como canais para contato, o espaço possui o e-mail [email protected], além do site www.tarecoemariola.com.br e o telefone (81) 3726-1419.