DENÚNCIA

Estupro, tortura e perseguição: jovem baiana narra vida de terror com padrasto

Giliard
Giliard
Publicado em 21/02/2019 às 10:45

Eva Luana revelou as agressões em seu perfil no Instagram
Foto: Marina Silva/CORREIO

Desde que começou o curso de Direito, Eva Luana da Silva, 21 anos, decidiu que seria juíza. Escolheu estar do lado da Justiça, ainda que nem sempre isso tenha sido recíproco. Mas a Justiça decepcionou Eva no passado. Deixou-a à própria sorte. Aos 13 anos, quando denunciou o padrasto por estupro de vulnerável, a então adolescente foi forçada a retirar a queixa. Agora, aos 21, Eva voltou a denunciar os abusos sofridos no padrasto, compartilhando detalhes através do seu Instagram e fazendo com que o caso tivesse grande repercussão (leia depoimento na íntegra abaixo).

O sistema falhou com Eva nos seus 13 anos e fez com que ela vivesse seu maior pesadelo por mais de oito anos. Eu não tinha certeza se eu ia conseguir sair com vida, mas sabia que eu tinha que dedicar meu tempo a uma coisa que eu gostasse, diz ela, hoje no 7º período. Estupros, agressões, torturas física e psicológica se tornaram a rotina da jovem e de sua mãe, moradoras de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS).

Dizer que a história parece o roteiro de um filme de terror talvez nem dê a verdadeira dimensão do que Eva passou. Na terça-feira (19), quando a estudante publicou em seu perfil no Instagram um relato, em cinco partes, contando detalhes sobre o sofrimento dos últimos anos, as postagens viralizaram. Em pouco mais de 24 horas, uma das fotos chegou a ter 239 mil curtidas. Artistas como Kéfera e Alice Wegmann compartilharam as postagens.

Meu caos teve início quando eu tinha 12 anos, minha mãe era agredida, abusada, violada e torturada quase todos os dias, escreveu, em sua página. As agressões continuaram com sua mãe, mas evoluíram: além da genitora, o agressor passou a estuprar e abusar da própria enteada.

O agressor é apontado como Thiago Oliveira Alves, seu padrasto. Um paulista que veio morar na Bahia depois de ter sido preso por roubo de carro em São Paulo. Na casa de Eva, ele chegou devagar. Engatou um namoro com a mãe dela e decidiu passar uns dias na casa da família. Uns dias, no entanto, se transformaram em eternidade. Ele não saiu mais de lá, até o início deste mês de fevereiro.

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{1} respira ? / a todos que me ajudaram até aqui, seja no "desaparecimento" ou agora, com os fatos verdadeiros, a minha eterna gratidão. Aos meus amigos de infância, que eu fui obrigada a abandonar um por um, preciso pedir perdão. Não vou citar nomes, mas quem está firme comigo sabe, eu vou retribuir com todo o meu amor e relembrar até a minha velhice. / Meu caos teve início quando eu tinha 12 anos, minha mãe era agredida,abusada,violada e torturada quase todos os dias. Meu padrasto era obsessivo e ciumento com ela. Resumindo de uma maneira geral, ela era agredida com chutes, joelhadas, objetos.. Era abusada sexualmente de todas as formas possíveis. Era obrigada a tomar bebidas até vomitar e quando vomitava tinha que tomar o próprio vômito como castigo. Ele começou a me abusar sexualmente. Eu tinha nojo, repulsa, ódio e não entendia porque aquilo acontecia comigo. Me sentia uma criança estranha e diferente das outras. Achava que aquilo só acontecia comigo. Eu tentei por diversas vezes ir para a casa da minha avó, mas ele sempre ligava ameaçando todos, dizendo que iria matar e fazer várias coisas assim. Então era uma prisão sem grade, literalmente. Quando eu fiz 13 anos denunciei. Nessa denúncia eu tinha certeza que seria salva por todos. Mas não foi isso que aconteceu. O Estado falhou a tal ponto que o meu caso não chegou nem ao Ministério público. Fui obrigada a retirar a queixa por ameaças do meu padrasto. Ele utilizou o poder financeiro pra comprar a liberdade e comprar a minha alma. Porque ali eu perdi a minha alma. E o que eu fui denunciar, 1 ano de sofrimento, se multiplicou em mais 8 anos. Desde então os abusos, torturas e todo tipo de agressão foram aumentando dia após dia, ano após ano. Eu não tive mais vida social. Tudo era uma farsa. Ele nos obrigava a fingir que tínhamos uma família perfeita. As agressões eram verbais, físicas e psicológicas. Entre elas comer muito, em tempo estipulado, isso aconteceu com uma pizza família, pra comer inteira em 10 minutos. Óbvio que não conseguimos.Tb tomar 2 litros de refrigerante nesses 10 minutos.. eu levei socos no rosto e ele não me deixava me proteger com a mão. Chutes até cair no chão

Uma publicação compartilhada por Eva Luana