Sobreviventes

Família de adolescente morta em Alagoinha ainda procura por respostas

Elessandra Melo*
Elessandra Melo*
Publicado em 09/04/2019 às 9:13

Avó de Evellyn, Maria Margarida Vieira Castor, vai diariamente à delegacia em busca por respostas
Foto: reprodução/TV Jornal Interior

Como fica a vida depois de perder alguém vítima da violência? Como seguir em frente? Vidas que entraram para as estatísticas negativas. De janeiro a dezembro de 2018, 4.166 pessoas foram assassinadas em todo o Estado de Pernambuco. No Agreste, o número de pessoas vítimas deste tipo de crime foi de 978. Em Caruaru, 168 pessoas foram vítimas de homicídios.

Mas na série de reportagens "Sobreviventes", nós vamos além dos números. Vamos mostrar como estão as famílias de algumas destas vítimas de homicídios. Mães que perderam filhos, pessoas que perderam irmãos, netos, amigos. Parentes que buscam incansavelmente por Justiça. Vamos falar sobre viventes, que na teoria são seres que têm vida. Mas que, na prática, uma parte deles morreu junto de alguém que faz parte das estatísticas de violência.

Enquanto o Governo de Pernambuco comemora redução na violência, ainda tem gente que não superou a perda de alguém da família e até hoje busca por Justiça. Uma destas famílias marcadas pela violência é a de dona Maria Margarida Vieira Castor. Há alguns meses, a vida dela parou. No lugar do sorriso e da alegria, lágrimas e tristeza. E na rotina, várias idas à Delegacia de Alagoinha, cidade em que ela mora e onde a neta foi assassinada.

Evellyn Sabrina Vieira da Silva, de 15 anos, foi morta na frente de casa
Foto: reprodução/TV Jornal Interior

"Todos os dias, duas, até três vezes eu vou na delegacia. Só escuto a mesma coisa: aqui nós não estamos parados, estamos trabalhando. E eu não vejo trabalho. Porque nós passamos muita informação, corremos muito atrás", lamentou, sobre a falta de respostas sobre o crime. "Tiraram minha paz, acabaram comigo", chora Margarida.

Dois de setembro de 2018, 4h da madrugada, Alagoinha: Evellyn Sabrina Vieira da Silva, de 15 anos, tinha saído de uma festa com um amigo. Na volta, a poucos metros de casa, enquanto eles conversavam, um homem a pé se aproximou e atirou contra eles. Evellyn foi atingida por disparos no tórax e no braço. Ela chegou a ser socorrida, mas não resistiu e faleceu no local. O amigo dela levou um tiro no braço, mas conseguiu escapar com vida.

Alguns meses depois, nós voltamos ao local onde a adolescente foi assassinada. Nas paredes de uma das casas da rua, ainda dá para ver as marcas dos tiros. Para as outras pessoas da rua, a vida seguiu. Mas para a mãe da jovem, Érica Carolina, nada é igual. No coração, muita dor e revolta. Não há um só dia que ela não lembre da filha, dos momentos que passaram juntas. Hábitos simples como dormir e acordar se tornaram torturantes.

"A nossa vida parou, o sofrimento quando a gente lembra dos momentos com ela, a gente sabe que ela não está mais aqui. Então, nesse sentido, dói todos os dias. O tempo vai passando e só piora a dor", conta, entre lágrimas, a mãe da adolescente.

Tiros ainda estão na parede da casa
Foto: reprodução/TV Jornal Interior

Evellyn era alegre, cheia de vida e de sonhos. Ela e a prima Ellen Cristina foram criadas juntas; dividiam praticamente tudo. Ver a prima dar os últimos suspiros foi difícil. "Eu fazia de tudo por ela, tudo o que eu pudesse fazer, eu fazia. E eu vi ela se acabando ali. Eu perguntava a ela: diz quem fez isso com minha filha? E ela não conseguia mais responder", relembrou.

O impacto deste tipo de crime na vida dos mais próximos às vítimas é gigantesco. As consequências são sentidas a curto, médio e longo prazo e perpassa por diversos fatores, entre eles o social, o psicológico e até mesmo o financeiro. "No campo social, os estudos apontam que estas famílias passam a ter problemas de relacionamento na própria unidade familiar, passam a ter problemas de relacionamento com a comunidade. E isso tudo é decorrente de como o homicídio, de como o feminicídio afeta essa unidade familiar", explica a mestra em Direitos Humanos Elba Ravane.

Por meio de nota, a Polícia Civil informou que o caso continua sob investigação e que o delegado Jair Cruz da Silva prefere não se pronunciar até que tenha concluído a apuração do crime.

* produção de Elton Braytnner