Sobreviventes

Violência acabou com a vida e o sonho de ser dançarino de Renan

Elessandra Melo*
Elessandra Melo*
Publicado em 10/04/2019 às 10:03

Renan da Silva Melo foi assassinado quando se divertia com amigos
Foto: reprodução/TV Jornal Interior

28 de outubro de 2018: Renan da Silva Melo saía de Bezerros, no Agreste de Pernambuco, onde morava, para trabalhar em Caruaru como garçom. Depois do expediente, ele resolveu não voltar para casa e aceitou o convite dos amigos. O grupo foi para a Rua da Má Fama, no centro de Caruaru, conhecida pelos restaurantes e bares. Por volta das 4h, uma briga entre jovens terminou com um tiroteio próximo do local onde estavam Renan e os amigos. Os alvos eram quatro adolescentes que estavam envolvidos na confusão. Mas Renan acabou ficando no meio da linha de tiro e foi atingido no peito. Ele morreu na hora.

Nós estivemos em Bezerros para conversar com a mãe e a irmã de Renan, na casa onde ele morava. Com carinho, elas guardam algumas fotos e duas roupas dos grupos de dança que ele fazia parte. "Foi a última imagem que eu vi dele. Ele dançando, que era o sonho dele, né. Ele trabalhava de garçom porque não tem oportunidade. Mas o sonho dele mesmo era a dança. De ter uma academia, que era o que ele sempre conversava", relembra Edilene Maria, irmã do jovem.

Apaixonado por dança, com o sonho de ser professor. Esse era Renan, que teve a vida e os planos interrompidos pela violência. Dona Edileuza, mãe de Renan, lembra como se fosse hoje o dia que ela recebeu a notícia da morte do filho. "Minha filha foi lá em casa [para contar]. Pensei que eles que iam me enterrar, né?", lamenta.

Além da mãe e da irmã, a morte de Renan é sentida pelo amigo de infância. Para Cláudio França, nada conseguirá preencher o vazio. Por alguns instantes, ele se negou a acreditar que fosse verdade. "Eu vi o nome, vi a imagem ainda passando, mas eu não quis acreditar. Quando eu cheguei aqui, a primeira vez que vi o caixão, eu não aguentei", conta, entre lágrimas. "A última vez que eu vesti a roupa do grupo da gente foi pra gente dançar, e eu vesti ela de novo no enterro dele. Foi muito difícil".

Viver o luto, ter um tempo para chorar a partida de alguém é natural. Porém, quando a morte acontece de forma repentina, o sofrimento pode ser prolongado e cada pessoa tem uma forma de reagir ao impacto de ter alguém retirado do convívio diário para sempre. "Vai ser um momento de muita negação, de choque, de falta de contato com essa realidade. Aquela sensação de que está sonhando e vai acordar a qualquer momento com a pessoa de volta. Não raro acomete a pessoa de muita culpa: 'Eu não deveria ter deixado sair, eu não deveria ter permitido que ela ou ele fosse para algum lugar. Aconteceu porque eu não impedi'. Em algum momento, aquela pessoa que morre é internalizada e a pessoa dá conta de viver sua vida naturalmente. O luto tem um tempo", explica a psicóloga e terapeuta do luto Sandra Moura.

8 de março de 2019: Polícia prende autores do crime

"O seu executor praticamente mirou no seu peito e o executou sem qualquer forma de defesa, apresentando claramente sua índole má e sempre afeto à prática de crimes. Isso é um pesar muito grande, porque foi um jovem que se foi, mais um jovem que a sociedade perdeu. Um jovem trabalhador que se foi de uma forma tão vil", contou o delegado Anderson Liberato.

4 de abril de 2019: Voltamos à casa da família de Renan.

Quatro meses depois do crime, a polícia conseguiu finalmente identificar e prender os envolvidos na morte de Renan. Perguntada se está com o coração mais sossegado, a mãe respondeu: "Está mais aliviado agora, mas não traz mais a vida dele, acabou. Mas para mim, ele está sempre perto de mim". Para a irmã, o trabalho da polícia foi fundamental: "Um alívio, hoje em dia quando acontece algum crime é muito difícil prender, achar, porque são vários, todo dia se mata alguém".

* Produção de Elton Braytnner