Sobreviventes

Assassinato de adolescente que amava música ainda é um mistério

Elessandra Melo*
Elessandra Melo*
Publicado em 11/04/2019 às 11:10

Jadson Guilherme era apaixonado por música; ele foi morto quando saiu para tocar
Foto: reprodução/TV Jornal Interior

Jadson Guilherme era um menino alegre que amava música e queria seguir carreira. A família não consegue acreditar que ele se foi tão jovem.

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A mãe relembra com detalhes do último dia que viu o filho, quando ele saía para tocar com a banda em Toritama. "Eu só fiz abençoar ele e disse: 'cuidado, viu, qualquer coisa ligue para mim'. Ele disse: 'tá certo' e foi embora", contou Josilene Ferreira.

A mãe se despediu do filho sem saber que aquela seria a última vez. Inicialmente, chegou a notícia de que o garoto tinha desaparecido. Ela chegou a tentar ligar para o filho, mas não conseguiu contato. A partir daí, teve início uma aflição e uma dor sem fim.

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"Mais ou menos 18h, veio a notícia que tinha um corpo de um menino num matagal. Então a gente foi tudo para lá para saber se era ele mesmo, porque até então eu não estava acreditando que era ele. Como até agora, ainda está difícil de acreditar", disse a mãe.

"O momento que mais me emociona é na parte que eu encontrei ele, no estado que ele estava. Ele estava muito inchado, com a mão quebrada, com o pescoço quebrado, e já em decomposição. Então ali, eu sabia que minha vida ia mudar", contou Josilene Ferreira.

O pai também lembra bem do momento em que teve que fazer o reconhecimento do corpo. Uma dor que ele jamais imaginou que pudesse sentir. "Foi um momento inesquecível. Me lembro daquele momento que eu vi aquela foto, eu acho que foi a coisa mais triste na minha vida. Inclusive eu passei dois dias no IML em Recife, eu vi uma situação que eles [os outros familiares] não tiveram a oportunidade de ver, porque eu não permiti. Eu disse: 'não abra esse caixão'. Eu reconheci ele pelos dentes. Então, é uma coisa que você não tira da cabeça", conta, entre lágrimas, o pai, Geraldo Márcio.

Os pais de Jadson são separados, por isto, ele morava com os avós maternos. Receber a notícia foi um choque para eles. "Quando chegou a notícia que foi ele, eu não sei mais de nada, porque eu não vi mais nada. Eu vim chegar em casa de manhã do hospital", relembrou a avó, Maria da Silva. O avô, Aristo Ferreira, sofreu um infarto alguns dias depois de saber da morte do neto. Todos na família sofreram: "O que aconteceu, jamais a gente ia esperar. Foi uma ferida que abriu na gente que não vai cicatrizar".

Mas o pior para a família é a falta de respostas, mesmo depois de tanto tempo. Até hoje, ninguém foi responsabilizado pelo assassinato do rapaz. "Eu já sou conhecido no batalhão quando eu chego. Todo mundo já me conhece, já sabe qual o meu caso, a minha situação. Porque eu coloquei na minha cabeça de não desistir. Eu não quero vingança, acho que não é o caso, porque quem praticou o crime tem que praticar de acordo com a Justiça. Não concordo com Justiça com as próprias mãos. Mas eu queria saber o motivo da morte, e quem matou", apela o pai de Jadson.

Para estas famílias, a busca por respostas e acima de tudo por Justiça é uma forma de consolo diante da dor. Uma lacuna que precisa ser preenchida, que como toda história se faz necessário uma conclusão para que, assim, eles consigam virar uma página e voltar a viver, mesmo com a saudade de um alguém que jamais voltará.

"A busca por Justiça, por uma resposta para uma morte repentina sem uma causa aparente, é necessária para que a pessoa elabore esse luto. Até onde é saudável ou não? Isso a gente vai precisar ver o contexto da família, o contexto dessa pessoa que anda buscando essa Justiça. Porque é absolutamente natural que se queira buscar a Justiça diante de algo que foi tão impactante para a família, que é a retirada da vida de alguém, um adolescente, por exemplo, que está no começo da sua trajetória, e quanta coisa da trajetória de vida fica sem viver...", explica a psicóloga especialista em luto, Sandra Moura.

Há casos que a polícia não consegue dar uma resposta, chegar à autoria do crime, apesar da alta taxa de resolução. Entre eles está o caso de Jadson Guilherme, tipificado pela polícia como de difícil elucidação. "Às vezes porque não tem informações da autoria, e boa parte das vezes porque existe informação do autor do crime, mas a polícia não detém ou não conseguiu elementos suficientes para conseguir indiciar essa pessoa", diz o delegado Bruno Vital.

O ideal seria que 100% dos casos fossem solucionados, mas, infelizmente, 40% deles acabam sendo arquivados por falta de provas, de elementos que permitam chegar a uma autoria, ou que quando se consegue identificar o autor, não consegue efetuar a prisão. "A gente encaminha esse inquérito com os elementos que tem para o Ministério Público como diligências. O Ministério Público pode analisar e retornar à delegacia para mais diligências que ele achar necessário. Ou se contentar com o que ali já foi feito, concordar com o delegado que o que pôde ser feito, foi feito, e pedir o arquivamento do inquérito", explica o delegado.

"Se a polícia tem uma alta demanda, tem um número de pessoal reduzido, não tem equipamentos científicos que os possibilite elucidar os casos com maior rapidez, a gente vai ter esse problema da falta de estrutura policial desaguar no colo dessas famílias que tiveram um ente querido retirado de forma brusca", destaca a mestra em Direitos Humanos Elba Ravane. Enquanto isto, mesmo mergulhados na dor, na saudade e na falta de respostas, as famílias tentam sobreviver e acreditar na Justiça.

A Polícia Civil informou por meio de nota que a investigação do caso iniciou com a delegada Sérvula Bezerra e depois foi encaminhado para o delegado Anderson Liberato. O caso foi remetido ao MPPE para análise. O Ministério Público informou que o inquérito foi enviado pela delegacia de Homicídios em 20 de novembro do ano passado à Vara do Júri de Caruaru. O processo em questão ainda não foi remetido pelo Poder Judiciário ao MPPE. O TJPE disse que o pedido de investigação foi arquivado. O processo de julgamento tramita na Vara do Júri de Caruaru para decisões do juiz. Na última terça-feira (9), o processo seguiu para a Central de Inquéritos.

* Produção de Elton Braytnner