População ribeirinha

Ipojuca: a vida em meio à poluição

Pessoas que vivem à margem do rio sofrem com poluição e riscos

Ana Maria Santiago de Miranda
Ana Maria Santiago de Miranda
Publicado em 29/05/2019 às 8:25
Reprodução/TV Jornal Interior
FOTO: Reprodução/TV Jornal Interior

A margem de um rio é um local que possibilita o desenvolvimento econômico de uma cidade. Da água, pode-se tirar tanto o que beber quanto o que comer. No entanto, para alguns moradores de regiões ribeirinhas da cidade de São Caetano, no Agreste de Pernambuco, viver às margens do Rio Ipojuca traz uma outra perspectiva. "É muita sujeira nesse rio e ninguém resolve nada. A gente que vive perto do rio adoece e ninguém faz nada", revela a dona de casa Maria Josefa. Segundo ela, viver próximo ao rio é muito difícil.

Moscas de dia, mosquitos à noite. Sem mencionar o cheiro ruim que o rio exala. Na cidade de São Caetano, 40% das ruas são saneadas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número inclui cerca de 15 mil imóveis, os quais têm o esgoto descartado diretamente no Ipojuca, sem nenhum tipo de tratamento. De acordo com levantamento do plano hidro-ambiental do Rio Ipojuca, esgotos domésticos são responsáveis por 67,3% da poluição do rio.

Uma estação de tratamento de esgoto começou a ser construída na cidade de São Caetano no ano de 2013. O projeto precisava ser aprovado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), mas o solo rochoso e a duplicação da BR-232, que divide bairros da cidade de São Caetano, atrasaram a obra. Nenhum dos equipamentos necessários para o tratamento chegou a ser comprado. O entrave também impediu que a cidade recebesse obras de esgotamento da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa).

Água do Rio Ipojuca é utilizada para irrigar plantações
Água do Rio Ipojuca é utilizada para irrigar plantações
Reprodução/TV Jornal Interior

A água poluída do rio é usada para irrigar plantações de berinjela, mamão e tomates na cidade de São Caetano. A cidade de Caruaru, que recebe o rio, é responsável por 42% da poluição contida no fluxo de água. Na Feira de Caruaru, dejetos humanos misturam-se a lixo comum, descartado no local. Pneus, garrafas e até um sofá podem ser encontrados nos trechos que cortam a Feira da Sulanca, em Caruaru.

Para o biomédico do SOS Ipojuca, Agenor Jácome, o rio está em uma situação delicada. "O rio Ipojuca é praticamente um esgoto a céu aberto. Ele chega a ter até 70 milhões de bactérias por milímetro", explica.

Diversas galerias entopem e alagam durante a época de chuvas devido ao acúmulo de lixo no rio. Alguns moradores da região já tiveram suas casas invadidas pela água poluída devido à proximidade com o leito. Alguns moradores chegam a precisar desviar de objetos jogados no rio para transitar pela região.

Riscos

A água levou todos os móveis da dona de casa, Anísia Maria, durante o período chuvoso. Segundo ela, por pouco não perdeu também a vida. "A água chegou a cobrir a casa. E o pessoal fala 'saia, irmã, se não a senhora vai morrer aí'", explicou.

O Ipojuca chegou a abastecer a cidade de Caruaru durante o período de 1900. Em um paredão que ligava o velho "Cafundó" ao bairro Vassoural. De lá para cá, a cidade, assim como a poluição no rio, cresceu.

Confira na reportagem de Luiz Carlos Fernandes, da TV Jornal Interior: