Após percorrer o estado de Pernambuco, o rio Ipojuca junta um pouco de poluição em cada cidade que passa. Esgotos sem tratamento, lixo e poluição em geral ameaçam a vida do rio, que insiste em sobreviver. Essa persistência, através de projetos de tratamento, transforma-se em esperança.
Na cidade de Belo Jardim, no Agreste do estado, uma barragem foi construída para amenizar a seca da região. Projetada para acumular mais de 35 milhões de metros cúbicos de água, essa barragem, com água limpa e peixes, garante a sobrevivência da população ribeirinha da comunidade.
Segundo pescador Evandro João, a sobrevivência de sua família é garantida pelo rio. "Eu vivo de pesca. Passei por momentos difíceis e procurei outros serviços e fiz bicos, mas apenas esperei a barragem encher para voltar à pesca de novo", explica. Evandro pesca no rio Ipojuca há 19 anos.
Ainda em Belo Jardim, a população em geral é atraída pela barragem. O local apelidado de "prainha" leva a população para se divertir no local em bares, degustando peixes pescados no rio. A poluição existe, com descarte inadequado de lixo dos frequentadores do local, no entanto, ainda se mantém sob controle.
Outra localidade que garante esperança ao rio é a cidade de Tacaimbó. Lá, o esgoto, que antes era jogado no rio de forma bruta, é colocado numa estação de tratamento. A capacidade total é de 37 litros cúbicos por segundo. Após a separação entre líquidos e sólidos, o material descartado pode ser utilizado para adubação de plantios.
Segundo a Secretaria de Saúde de Tacaimbó, após a implantação da estação de tratamento, houve uma diminuição de doenças infecciosas e até de mortalidade infantil. De acordo com Luzia Cícera, dona de casa ribeirinha, doenças ocasionadas pelo rio eram comuns. "Antes eu tinha diarreia, tinha gripe forte, mas agora a água é limpa e não tem mais problemas", explica.
As cidades de Sanharó, Belo Jardim, Tacaimbó e São Bento do Una devem ser as próximas a receber a obra. O projeto da Compesa é que todas as cidade banhadas pelo Rio Ipojuca possam tratar o esgoto bruto que o rio recebe.
Na zona rural, o afluente voltou a ser utilizado para fins agrícolas após o tratamento. Segundo agricultor José Rinaldo, as famílias não iriam sobreviver caso o rio desaparecesse. "O rio representa tudo para nós aqui. Sem o rio, não teríamos como viver. Ele serve para a gente criar, plantar. Aqui, o movimento da agricultura é todo do rio", comenta.
Em Caruaru, a organização não governamental (ONG) SOS Rio Ipojuca planta mudas nas margens do rio. O projeto tem o objetivo de ajudar na limpeza das águas através do plantio de árvores nativas da região. Segundo Alysson Borges, um dos estudantes que apoiam o projeto, a iniciativa garante o rio para as futuras gerações. "Plante, porque a vida começa de baixo e quando você vê ela já está florida e é igual estamos fazendo aqui. Estamos plantando para no futuro, florir", explica.
Entre descasos e cuidados, o Ipojuca sobrevive. Sua importância para o estado de Pernambuco demonstra a necessidade de políticas públicas de preservação ambiental. Em um projeto, o dia municipal do rio Ipojuca foi criado em Caruaru, na data de 9 de maio. Esse é o começo de uma discussão necessária. O caminho agora é de esperança.
Confira a reportagem de Luiz Carlos Fernandes, da TV Jornal Interior: