Economia

Agricultor de Petrolina precisa produzir 250 caixas de acerola para cobrir custos

Levantamento feito por sindicato revelou ainda que são necessários três anos para obter lucros

Ana Maria Santiago de Miranda
Ana Maria Santiago de Miranda
Publicado em 16/07/2019 às 11:27
Divulgação/Sintraf
FOTO: Divulgação/Sintraf

O produtor de acerola do interior de Pernambuco gastou em média R$ 5 mil por hectare para implantar a fruta na última safra 2018/2019. De acordo com o Sindicato dos Agricultores Familiares de Petrolina (Sintraf), no Sertão, que fez o levantamento, isto quer dizer que o agricultor teve que produzir pelo menos 250 caixas por hectare na média para cobrir os custos com o fruto.

O preço médio é de R$ 20 por caixa e a mão de obra, R$ 9 por cada colheita. Juntando com o custo da irrigação e os tratos culturais (adubação, capinação e fertilização), a entidade calcula que o produtor tirou uma rentabilidade de quatro caixas por hectare. O levantamento explica ainda que um produtor de acerola leva pelo menos um ano e meio para cobrir o investimento.

Já para conseguir uma rentabilidade, são necessários três anos. Depois da colheita, o fruticultor comercializa o produto para feiras livres e alimentação escolar, além de atravessadores que distribuem o "grosso" da produção de Petrolina para Fortaleza, Teresina, Aracaju, Salvador e outras capitais, além de cidades como Feira de Santana, Ubatã, Ibirataia, Novas Flores e Ilhéus.

O agricultor Jacob Nunes, 50 anos, produz acerola há oito anos e percebeu as mudanças. A plantação dele fica no projeto de irrigação Nilo Coelho, N-6, em Petrolina. São cerca de 2,5 hectares. A maior parte da produção é vendida para comerciantes da região e fábricas de polpas em Fortaleza e cidades da Bahia.

"Ultimamente, está completando um ano, que o preço está defasado, muito baixo, e os custos muito altos", disse. Para o agricultor, uma alternativa para que a situação melhorasse seria estimular a vinda de fábricas de polpas para Pernambuco. Ainda de acordo com o produtor, a falta de chuvas na região também atrapalha as produções. O período mais intenso de produção é de setembro a maio.

Para produtor conseguir rentabilidade, são necessários três anos
Para produtor conseguir rentabilidade, são necessários três anos
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Para a presidente do Sintraf, Isália Damacena, há a previsão de uma melhora com relação aos preços das próximas safras. Porém, não é possível analisar isto como uma boa notícia. Recentemente, muitos produtores decidiram erradicar as próprias áreas de acerola, o que fará com que a disponibilidade da fruta seja reduzida.

"Estimamos que até o início do ano passado, 3.422 agricultores familiares produziam acerola no município, desde os projetos irrigados Nilo Coelho, Maria Tereza e Bebedouro até as áreas de sequeiro como Pontal Perenizado e assentamentos. Mas de lá para cá, tivemos uma média de 500 pessoas migrando para outras culturas", revela.

Lucros diminuíram

A pesquisa avalia que antigamente o cultivo de acerola em Petrolina dava um retorno comercial mais satisfatório, pois o custo de produção era mais baixo. Porém, recentemente, houve alta na mão de obra, baixa procura pela fruta e uma redução nos preços. Como consequência, diminuíram os lucros para o agricultor.

Os dados do levantamento deverão ser usados pelo Sintraf para reivindicar políticas públicas de fomento junto a autoridades do Vale do São Francisco e pleitear assistência técnica e descontos de tarifas para os agricultores familiares diante das instituições federais, estaduais e do município.