Crise

Sergio Moro confirma demissão do Governo Bolsonaro

Ele apontou que há interferência política na substituição do comando da Polícia Federal

Ana Maria Santiago de Miranda
Ana Maria Santiago de Miranda
Publicado em 24/04/2020 às 11:42
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FOTO: Reprodução/YouTube

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, confirmou nesta sexta-feira (24) a demissão do governo do presidente Jair Bolsonaro. O agora ex-ministro anunciou a decisão em um pronunciamento nesta manhã. Um dos principais motivos para a saída do ministério foi a troca do diretor-geral da Polícia Federal, Mauricio Valeixo, cuja exoneração foi publicada no Diário Oficial da União desta sexta.

Moro afirmou que desde o segundo semestre do ano passado, houve "insistência" por parte do presidente de trocar o comando da PF. Inicialmente, segundo ele, houve o desejo de trocar o superintendente da PF do Rio de Janeiro "sem motivo". Ele acabou sendo substituído, de acordo com Moro, por questões pessoais.

De acordo com Sergio Moro, não foram apresentadas razões para a substituição de Valeixo. Na avaliação de Moro, só deveria haver substituição em caso de "erro grave" ou "insuficiência de desempenho", o que de acordo com o ex-ministro, não existiu: "O que houve foi um trabalho bem feito". O ex-ministro afirmou que com a mudança, houve "violação da carta branca" [para nomeações] e "uma clara interferência política na PF".

O ex-ministro afirmou que Bolsonaro "disse expressamente" que queria ter na direção-geral da PF uma pessoa com quem ele pudesse ter um contato pessoal para obter relatórios de inteligência e que o presidente estava preocupado com o andamento de inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Moro disse que "não é o papel da Polícia Federal prestar essas informações" e que a "precipitação" de Bolsonaro em fazer a exoneração de Valeixo mostrava que o presidente não queria Moro no cargo. Ele afirmou ainda que provavelmente o presidente negaria estas declarações. O ex-ministro disse ainda que a exoneração do diretor-geral da PF não foi "a pedido", como consta no Diário Oficial.

Sergio Moro lembrou que ao aceitar o cargo, tinha como compromissos o combate à corrupção, ao crime organizado e aos crimes violentos. "Me foi prometida carta branca para nomear todos os assessores, inclusive dos órgãos como a Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Federal", lembrou.

Moro disse ainda que durante a Lava Jato, sempre houve preocupação com a interferência do Executivo nas investigações, com ações como a troca do diretor-geral e superintendente sem justificativa. "O governo da época tinha inúmeros defeitos, como crimes de corrupção, [mas] foi fundamental a manutenção da autonomia da Polícia Federal, o que permitiu os resultados alcançados", disse.

Futuro

O ex-ministro disse ainda que nunca houve uma condição de que ele seria nomeado ministro do STF para que aceitasse o cargo. De acordo com o ex-ministro, a única condição solicitada ao presidente foi que a família recebesse uma pensão caso "alguma coisa acontecesse" com ele. Moro lembrou que ao abandonar os 22 anos de magistratura, perdeu o direito à aposentadoria.

Sobre o futuro, Moro afirmou que irá "arrumar as coisas" e apresentar uma carta de demissão. Ele disse ainda que pretende descansar, mas que está sempre "à disposição do país". Ele disse ainda que "sabia dos riscos" ao deixar a magistratura para assumir o ministério.

Balanço da gestão

No início da coletiva de imprensa, Moro fez um balanço do período à frente do ministério e da carreira como juiz federal por 22 anos. Citou os casos relevantes dos quais participou e fez destaque à Operação Lava Jato, que nas palavras dele, "mudou o patamar de combate à corrupção no País". Ele destacou ainda grandes prisões, recordes na apreensão de drogas e diminuição nos homicídios durante o último ano. O ex-ministro disse que em alguns projetos teve o apoio de Bolsonaro, outros "nem tanto".