Julgamento

Caso Mariana Ferrer: advogado de empresário diz que falas foram descontextualizadas

Durante o julgamento, Rosa Filho humilhou a vítima

Ana Maria Santiago de Miranda
Ana Maria Santiago de Miranda
Publicado em 04/11/2020 às 12:00
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O advogado Cláudio Gastão da Rosa Filho, que defende o empresário André de Camargo Aranha no julgamento da acusação de estupro cometido contra a promotora de eventos Mariana Ferrer, disse em entrevista ao jornal O Globo que suas falas foram descontextualizadas.

No vídeo do julgamento, obtido e divulgado pelo The Intercept Brasil, o advogado aparece humilhando a vítima. Ele chegou a mostrar cópias de fotos sensuais da jovem antes do crime, como forma de "provar" que a relação foi consensual. Ele disse ainda que jamais teria uma filha "do nível de Mariana".

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Humilhada, a jovem começa a chorar e o juiz propõe um intervalo para que ela se recomponha. "Eu gostaria de respeito, eu estou implorando por respeito no mínimo. Nem os acusados, nem os assassinos são tratados da forma que eu estou sendo tratada, pelo amor de Deus, gente", disse Mariana, aos prantos.

"Foi uma audiência longa, pegaram a minha fala descontextualizada e editada e tentaram me pintar como se eu tivesse desrespeitando uma suposta vítima de estupro e, na verdade, eu estava exercendo o meu papel", disse Rosa Filho, ao Globo.

Nessa terça (3), o Senado aprovou um voto de repúdio ao advogado, ao juiz Rudson Marcos e ao promotor Thiago Carriço de Oliveira. Os senadores afirmaram que eles distorceram o crime de estupro e expuseram a vítima "a sofrimento e humilhação".

O Ministério Público de Santa Catarina disse que a conduta do advogado "não se coaduna com a que se espera dos profissionais do Direito envolvidos em processos tão sensíveis e difíceis às vítimas". A OAB Santa Catarina recebeu denúncias sobre a conduta do advogado e pediu que ele prestasse esclarecimentos.

O caso

A catarinense Mariana Ferrer, 23 anos, denuncia que foi estuprada pelo empresário André de Camargo Aranha, durante uma festa no ano de 2018. Ele foi considerado inocente. No mês de setembro, o caso gerou repercussão e a hashtag #justiçapormariferrer chegou aos Trending Topics do Twitter.

Segundo a jovem, o crime ocorreu durante uma festa no dia 15 de dezembro de 2018, na abertura do verão Music Sunset do beach club Café de la Musique, em Florianópolis (SC). Mariana tinha 21 anos e estava promovendo o evento nas redes sociais.

A influenciadora afirma que teria sido drogada durante a festa, e estuprada em seguida. Mariana diz ainda que era virgem antes do estupro, o que foi constatado pelo laudo pericial.

De acordo com o The Intercept Brasil, o promotor do caso alegou que não havia como o empresário saber que a jovem não estava em condições de consentir a relação sexual. Por isto, segundo ele, não houve a intenção de estuprar. O juiz aceitou a argumentação de estupro culposo, mas como o crime não é previsto em lei, o empresário foi absolvido.