Aedes aegypti

Acordo com a Vale prevê "fábrica de mosquitos" para combater a dengue

Biofábrica vai introduzir bactéria nos mosquitos capaz de evitar que a doença seja transmitida aos seres humanos.

Agência Brasil
Agência Brasil
Publicado em 17/03/2021 às 14:25
Foto: Agência Brasil
FOTO: Foto: Agência Brasil

Um acordo entre o governo de Minas Gerais e a mineradora Vale prevê a implementação de uma fábrica que vai "produzir mosquitos", para combater às doenças causadas pelo Aedes aegypti, nos municípios atingidos pelo rompimento da barragem em Brumadinho (MG). A tragédia ambiental ocorreu em janeiro de 2019.

[[LEIA-TAMBEM][153082,162590,168666,168758][LEIA-TAMBEM]

A iniciativa consiste no uso da bactéria Wolbachia. Introduzida nos mosquitos, é capaz de evitar que os vírus da dengue, da zika e da chikungunya sejam transmitidos aos seres humanos durante a picada do Aedes aegypti. Uma biofábrica será instalada em Belo Horizonte, em um terreno cedido pelo governo estadual.

O local será usado para a reprodução controlada dos mosquitos, que posteriormente serão liberados já com a bactéria em seu organismo. Eles serão soltos nos diversos municípios atingidos. A Vale vai construir, equipar e mobiliar a estrutura da biofábrica, que será propriedade do estado de Minas Gerais.

Uma vez concluída a obra, o projeto será operacionalizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A expectativa é que a liberação de mosquitos no meio ambiente comece cerca de quatro meses após a entrega. A iniciativa será voltada inicialmente para a região atingida na tragédia, mas poderá alcançar outros municípios mineiros caso haja disponibilidade financeira.

A construção da biofábrica deve levar 15 meses. O custo da obra está estimado em R$ 10,7 milhões e o investimento previsto no projeto é de R$ 57,1 milhões. Esses valores serão extraídos dos R$ 37,68 bilhões reservados para a reparação dos danos causados na tragédia, conforme o acordo global firmado há pouco mais de dois meses.

Casos de dengue

O rompimento da barragem ocorreu em 25 de janeiro de 2019. Foram confirmadas 270 mortes, das quais 11 corpos ainda estão desaparecidos. O vazamento de aproximadamente 12 milhões de metros cúbicos de rejeito também causou destruição de comunidades, devastação ambiental, impactos socioeconômicos em diversos municípios e poluição no Rio Paraopeba.

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas, os casos de dengue nas cidades atingidas não tiveram grandes alterações. Em 2019, ano da tragédia, Brumadinho registrou 2,1 mil casos da doença. O número é bem superior ao de 2018 (apenas 25 ocorrências foram notificadas) e ao de 2020 (174 ocorrências). O crescimento significativo se deu em todo o estado: foram 29,9 mil registros em 2018, 480,6 mil em 2019 e 84 mil em 2020.  

A construção da biofábrica é considerada medida de caráter compensatório, isto é, trata-se de uma medida voltada para melhorar a qualidade de vida na região, compensando assim eventuais danos ambientais considerados irreparáveis.

O uso da bactéria Wolbachia no controle das arboviroses como dengue, zika e febre chikungunya começou na Austrália e já é adotado em 11 países a partir do World Mosquito Program (WMP), uma articulação internacional de diversas instituições científicas. No Brasil, ele é conduzido pela Fiocruz, com o apoio do Ministério da Saúde.