Em 2020, o Dia das Mães aconteceu logo no início da pandemia da Covido-19 no Brasil. O que não parecia durar muito, já dura mais de uma ano e apesar do tempo, se acostumar continua sendo um processo diário. Se o isolamento por si só já é difícil de lidar, vivenciar esse momento estando grávida parece muito pior, mas através da maternidade Jacque Tamboo e Camila Lucena, descobriram que o amor pode ser transformado em aprendizado e esperança.
Jacque Tamboo, é mestra em design e tem 34 anos, ela e o esposo descobriram que estavam grávidos no final de 2019 e tiveram a pequena Catarina em junho de 2020, no pico da primeira onda do corononavírus no Brasil. A designer explicou que passou os últimos 3 meses da gestação completamente isolada, saindo apenas para o exames e consultas do pré-natal. "Foi muito difícil não ter a presença da nossa família, dos amigos, não poder celebrar e viver essa fase tão importante com tranquilidade. Quase não temos registros da gravidez com outras pessoas", contou.
Desde que o coronavirus chegou no país, mais de 400 milhões de pessoas foram levadas pela doença. A mãe de primeira viagem, contou que teve que se adaptar junto com o esposo, numa rotina de trabalho, estudo e cuidados com a gestação.
Eu não sei como é ter um filho fora da pandemia então não consigo dizer como é o jeito “normal” de se criar alguém. Quando ela nasceu já estávamos com os cuidados de usar máscara (usamos inclusive durante o trabalho de parto, parto e pós parto), álcool gel o tempo inteiro, não receber visitas. Então esse é o jeito que a gente já começou a viver com ela. A rotina dela já envolve esses novos hábitos.
Assim como Jacque, Camila também foi mãe durante a pandemia. Maria Eduarda nasceu em setembro de 2020. A publicitária explicou que quando tudo começou teve medo, mas ela e o esposo acreditavam que se ficassem em casa alguns dias tudo passaria, infelizmente o cenário foi diferente. "Quanto mais pessoas próximas ficavam doentes, mas a gente se isolava. Ficamos muito assustados e cada vez mais preocupados. Só saíamos de casa mesmo quando era necessário, pra consulta pré-natal e exames", contou.
Para Camila e Jacque, ser mãe de primeira viagem já é um desafio, mas em meio a pandemia é desafio muito maior. As duas estavam lidando com inseguranças, medos, apreensões e tudo isso sem a família por perto para dar um acalanto. Camila explica que esse momento em isolamento a ajudou a aproveitar momentos que não teria aproveitado se estivesse em uma rotinha "normal".
Teve o lado bom, se é que pode se tirar um lado bom, mas assim, a gestação acabou sendo tranquila. Com Marcos em casa, trabalhando remotamente e eu também, sem poder sair, a gente curtiu todos os momentos da gestação. Todos os chutinhos, todos os enjoos, todos os momentos que a gestação permite a mãe viver. Se estivéssemos em um ritmo de trabalho normal, não teríamos conseguido viver esses momentos.
Jacque conta que depois que a filha nasceu ela e o esposo, puderam contar com a ajuda dos pais e e a sogra, e também aproveitaram esse período de isolamento para conhecer a filha melhor. Mas para que a ajuda fosse possível, ela e o esposo criaram uma espécie de rodízio para que os pais e a sogra se mantivessem seguros, sem nenhum sintoma, já que todos são idosos se na época ainda não havia vacina.
"Nos primeiros três meses tivemos que desenvolver um sistema para vê-los a cada 15 dias para observarmos algum tipo de sintoma ou algo do tipo. No dia a dia éramos nós dois pra dar conta de tudo, então foi MUITO difícil mas também uma época de muito aprendizado, de conhecer nossa filha com paciência", contou.
Dores e delícias de ser mãe
Camila explica que a maternidade lhe deu uma força, da qual ela não imaginaria ter. Mas essa força tem um preço, dar conta de tudo exige que a mãe se coloque de lado para poder cumprir todas as responsabilidades e o papel do pai nesse momento é fundamental. "Mãe dá conta de tudo. Ela se doa de uma forma inexplicável. Eu acho que a maternidade me fez ver que eu tenho uma força maior. Eu consigo fazer tanta coisa que eu nunca imaginei que eu pudesse fazer. A carga maior é da mãe, principalmente se o bebê mamar. Meu esposo pode não amamentar, mas só em estar do meu lado, dizendo 'Olha, quando você acabar, vou te fazer uma massagem', isso faz uma diferença enorme", contou a publicitária.
Em um relato no Instagram, Jacque Tamboo falou sobre a maternidade e as dificuldades que as mães precisam enfrentar sozinhas e durante o purpério, período em que o corpo da mulher volta ao seu estado natural. "O discurso da mae perfeita so serve pra fazer a gente se sentir mal e em divida. Ser mae cansa. Exaure. Exige muito e cada uma tem seu processo e seu caminho. Pegue leve com voce", escreveu a desingner na publicação.
O puerpério é um período muito solitário. Isso está absolutamente potencializado com o isolamento causado pela pandemia. A mães precisam de suporte, de um ombro amigo, de escuta, de atenção e de cuidado. Precisamos cuidar de quem cuida de todo mundo, afirma Jacque Tamboo.
Antes de ser mãe, as mulheres tem uma trajetória de vida, que, muitas vezes, passa despercebida, pelo simples fato de se tornar mãe. Jacque Tamboo é desingner, produtora de moda, professora, empreendedora, e agora, mãe de Catarina. Camila Lucena, é publicitária, missionária, estudante de psicologia, e agora, mãe de Maria Eduarda. Ambas são mulheres com desejos, amores, coragens e medos. Todos os dias se descobrem no novo trabalho de cuidar e amar outra vida. Se descobrem na tarefa de ser mãe.