O dia 18 de maio de 2021 marca os 164 anos de história da municipalização de Caruaru. A cidade, que tem mais de 360 mil habitantes, é uma das grandes potências responsáveis por movimentar a economia de Pernambuco partindo da região do Agreste. Uma história que mistura tradição, cultura e desenvolvimento, que representa a força do interior do estado.
A representatividade do município lhe concedeu algumas denominações, que são reconhecidas pelos seus moradores e pelas pessoas que admiram a terra onde cresceu o Mestre Vitalino. Seja “Capital do Agreste”, “Capital do Forró” ou até mesmo “Princesa do Agreste”, Caruaru é uma terra que mistura histórias da vida de cada cidadão com a sua própria história e constrói, a cada dia, um legado conhecido em todo o país.
Capital do Agreste
Os primeiros registros que se tem de Caruaru são do ano de 1681, quando o governador de Pernambuco, Aires de Sousa de Castro, concedeu as terras da Fazenda Caruru a uma família descendente da coroa portuguesa que morava no Recife, os Rodrigues de Sá. A sesmaria, como era chamada, foi concedida com o objetivo de desenvolver a agricultura e a criação de gado no interior de Pernambuco para garantir o domínio territorial.
Em entrevista ao NE10 Interior, o historiador Walmiré Dimeron detalhou que foi apenas em 1772 que José Rodrigues de Jesus se mudou para a fazenda. “Quando ele chega aqui a fazenda está abandonada. Ele cuida dela e tem a ideia de construir ali uma capela sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição. A mãe dele era muito devota à santa”, contou.
A fazenda ficava localizada ao lado da rota dos boiadeiros e, por consequência, eles acabavam passando ao lado da capela, que mais tarde viria a representar um dos principais pontos da cidade, que é o Marco Zero. Com o trânsito frequente, começou a surgir a necessidade de os boiadeiros precisarem passar a noite e se hospedarem em Caruaru.
A igreja também foi a responsável por atrair pessoas de fora, a exemplo dos padres, que precisavam passar algum tempo na cidade quando eram convidados para celebrar missas e solenidades comemorativas. Esse episódio de criação da capela e o aumento do fluxo de pessoas marca, desde aquela época, a ideia de que Caruaru é a Capital do Agreste, porque a região ganhou destaque com seu crescimento.
“Em frente à igreja surgiu um pequeno comércio, que foi se tornando cada vez mais frequente, porque já era um número considerável de pessoas que frequentavam essa ‘feirinha semanal’, digamos assim. Ela se torna mais frequente e vira a feira dos sábados. Por isso que esse episódio da igreja é importante, porque é ao redor dela que surge a feira e é feito o caminho da boiada” explicou o historiador. A feira, que em X viria a ser transferida para o Parque 18 de Maio, é uma das principais fontes do desenvolvimento da cidade e do Agreste.
Foi a partir daí que começaram a surgir as primeiras construções da cidade, ao redor da igreja. “A fazenda se transforma em um ‘ajuntamento de casas’, ainda sem ordenamento urbano, e depois esse conjunto de casas se torna um arruado, um povoado e em 1848 se transforma em vila. Em 1957 a vila é elevada a condição de cidade e em 1893, já na República, a cidade se transforma em distrito autônomo”, detalhou Walmiré.
O processo de autonomia do distrito se deu em conjunto com a Proclamação da República no Brasil. O movimento trouxe marcas para Caruaru, que fez três tentativas para eleger o primeiro prefeito. Foi em 1891 que houve a primeira tentativa. No entanto, divergências a nível federal e estadual, as primeiras eleições, que colocaram o Coronel Porto no cargo municipal, tiveram que ser anuladas.
A segunda tentativa elegeu Juvêncio Mariz, mas o prefeito só governou por alguns meses porque foi destituído do cargo. O terceiro prefeito eleito foi o Major João Salvador dos Santos, que é considerado o primeiro prefeito constitucional da cidade e conseguiu cumprir seu mandato de 1892 a 1895. Apesar da sua importância histórica, Caruaru não tem um registro oficial da quantidade de prefeitos que já passaram pela gestão do município. Isso porque o acervo com os dados, que ficava na Câmara de Vereadores, foi danificado com uma enchente.
Capital do Forró
Outra denominação da cidade é a de ‘Capital do Forró’. A tradição popular surge em um formato bastante diferente do que conhecemos atualmente. Walmiré explica que, junto ao comércio que começa a surgir com a feira, surgem manifestações culturais na cidade. É o caso da Festa do Comércio, que era realizada na Rua 15 de Novembro, e do Carnaval, que era comemorado na cidade com grande participação de pessoas.
“A tradição do São João começou na zona rural, nos sítios, nas fazendas, e essa festa vai chegando aos poucos à cidade através dos bairros periféricos. Até que, no começo do século XX, alguns clubes, como o Clube Intermunicipal, e alguns cassinos da cidade começaram a promover festas privadas, mas ainda muito diferentes do caráter ‘matuto’”, explica o historiador.
Foi por volta dos anos 60 que a cidade aderiu de forma mais contundente à tradição de decorar ruas, em virtude dos concursos de rua, incentivados pelas rádios, como a Rádio Difusora, que mais tarde viria a se tornar a Rádio Jornal. Eram oferecidas premiações para os moradores que tinham a rua mais decorada e a tradição tomou conta do município.
“Dentre as ruas, estava a Rua 3 de Maio, que não deu início à tradição, mas era a rua mais famosa. Outras famílias deram início à tradição, que foi herdada pelas irmãs Lyra, que deram projeção maior à festa. Aí surge a fogueira do Convento e outras ruas conhecidas também ganham destaque, como a Rua Capitão Zezé, a Avenida Rio de Janeiro, a Rua São Roque e diversas outras”, contou Walmiré.
Foi nos anos 80 que o potencial da festa começou a ser visto a partir de um ponto de vista de que havia potencial turístico. “Uma coisa que era apenas afetiva, cultural e espontânea chamou a atenção de alguém que percebeu que a cidade ficava lotada de turistas e de familiares de quem morava em Caruaru e enxergou ali um produto turístico. Foi quando a prefeitura tomou para si a responsabilidade de dar projeção à festa.”
Uma das tentativas de organizar a festa foi o Circo do Forró, no Parque 18 de Maio, para onde seria transferida a feira anos depois. Foi em 1994 que o São João de Caruaru começou a ser realizado no Pátio de Eventos Luiz Lua Gonzaga. A festa atualmente movimenta mais de R$ 200 milhões durante o período junino e é conhecida em todo o mundo como uma das maiores manifestações culturais juninas do mundo. Particularmente, Caruaru é considerada a Capital do Forró e tem o maior e melhor São João do mundo para quem mora na cidade ou até mesmo para quem é de fora e ama a cultura da terra.
Princesa do Agreste
Carinhosamente chamada de princesa, Caruaru é uma das cidades com maior representatividade econômica e social no interior de Pernambuco. A cidade é responsável por uma das maiores e mais tradicionais feiras do Polo de Confecções do Agreste, localizada no Parque 18 de Maio. Além disso, o município atrai pessoas de diversas cidades, seja para oportunidades de emprego, para estudar em instituições de ensino locais ou até mesmo pessoas que se apaixonam pelo clima e pela característica de “interior com cara de cidade grande”.
A cidade é referência no artesanato com barro, herança deixada pelo Mestre Vitalino, no turismo cultural e na representatividade da força do povo do interior do estado. Na comemoração de seus 164 anos, o município enfrenta adversidades em virtude da pandemia da Covid-19, mas sem nunca deixar de destacar a força do povo nordestino que respira cultura, tradição e força.
Aniversário de Caruaru