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A família que 'não existe': mulher e cinco filhos não têm documentos e não conseguem benefícios e trabalho

A jovem nunca teve documentos de identificação e luta para "mostrar que existe no mundo".

Eduarda Cabral
Eduarda Cabral
Publicado em 26/05/2021 às 12:50
Reprodução/TV Jornal Interior
FOTO: Reprodução/TV Jornal Interior

Sem nenhum documento desde que nasceu há 25 anos, Sara Larissa nunca pôde receber um benefício nem conseguir trabalho. A mulher, que mora em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, encontrou como alternativa pedir dinheiro ou comida nos semáforos da cidade. É assim que tenta sobreviver desde que se mudou do Recife para a Capital do Agreste há 10 anos.

Sara diz que só quer "existir" para receber os direitos que são comuns a qualquer cidadão. "Com a minha documentação vou poder mostrar que eu sou uma cidadã de bem, que eu vou arrumar um emprego. Não é nem pelo Bolsa Família. Eu quero meu documento pra arrumar um emprego, de verdade, ter minhas coisas e parar de ser humilhada por pedir um pão aqui e um pão ali", desabafou a jovem. "Não tenho um papel pra mostrar que eu existo no mundo", disse.

Diante de todas as adversidades que vem enfrentando desde que nasceu devido à falta de documentação, nenhuma preocupa mais do que a falta de registro dos cinco filhos. Assim como ela não pode trabalhar, eles não podem estudar e enfrentam dificuldades até para realizar consultas médicas. Na última vez que levou o caçula a uma UPA da cidade, ela e o bebê foram chamados de indigentes. "Eu fui pra UPA e não podia ser atendida, fui chamada de indigente porque não tenho cartão do SUS", disse.

Dificuldades de registro

A mãe de Sara, Maria do Carmo, disse que, desde que a filha tinha três anos de idade, ela tenta registrá-la em um cartório, mas nunca conseguiu porque existe a exigência de que o pai da criança deve estar no momento do registro. No entanto, Maria se separou do companheiro e não conseguiu fazer o registro.

"A Justiça nunca me deu direito de registrar porque eu era casada com o pai e ele tinha que comparecer pra assinar lá. Nisso ficou nesses anos todos. Eu já fui mais de dez vezes com os conselheiros tutelares para Recife, para tentar resolver, e nada, nunca consegui", disse Maria do Carmo.

O Conselho Tutelar informou à TV Jornal que, há mais de um ano, acompanha a situação e tenta agilizar a emissão dos documentos junto ao Judiciário. A previsão é de que, até a próxima semana, seja emitida a certidão de nascimento de Sara Larissa e a partir disso ela poderá emitir seu primeiro documento de identidade. 

Confira a entrevista completa:

*Com informações do repórter Luiz Carlos Fernandes, da TV Jornal Interior