Determinação

Aos 54 anos, faxineira volta a estudar e passa em vestibular da Unesp

Maria Helena trabalha no departamento de limpeza da Unesp e decidiu prestar o vestibular para biologia.

NE10 Interior
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Publicado em 06/06/2021 às 9:42
Reprodução/Arquivo pessoal
FOTO: Reprodução/Arquivo pessoal

Depois de 4 anos que decidiu voltar a estudar, a faxineira Maria Helena, 54 anos, conseguiu alcançar o seu maior sonho: uma vaga na universidade pública e se tornar bióloga. Ela é a mais nova aluna do curso de biologia da Universidade Estadual Paulista em Bauru (Unesp), em São Paulo.

Durante seu expediente na limpeza do Departamento de Química da universidade, a estudante conferiu a lista de aprovados do vestibular 2021 da universidade, divulgada no dia 27 de maio, e não acreditou que seu nome estava na lista. Chegou a mostrar o documento para um professor, porque não acreditava.

Ao G1, ela contou que estava com medo de olhar a lista, mas sabia que se o resultado não fosse positivo ela tentaria de novo. "Eu abri o celular para verificar a lista com medo e uma sensação triste, pensei: ‘ai, meu Deus. Será que eu vou dar esse orgulho para os meus filhos? Se não foi [desta vez], eu vou tentar de novo. Eu disse para o chefe, o seu Antônio, ‘acho que fui classificada’. Ele viu, confirmou e me deu os parabéns. Eu fiquei feliz demais", contou. 

Para ela, o resultado simboliza a sua dedicação aos estudos, em um momento que acreditou ser ideal para que conseguisse focar a sua energia nos livros depois de uma vida inteira dedicada ao cuidado da família, dos dois filhos e ao trabalho.

Rotina de estudo e trabalho 

Maria começou a trabalhar como faxineira para uma empresa terceirizada na Unesp começou a considerar a possibilidade de voltar a estudar. Ela trabalhava no comércio antes de ser contratada pela universidade em 2012.

Os anos foram se passando e ela se inscreveu no Projeto Unesp de Educação de Jovens e Adultos (PEJA) da universidade com o incentivo do cursinho Primeiro de Maio, que fez uma campanha em 2017 para incentivar a equipe que trabalhava na limpeza na universidade a estudar no cursinho.

“Eu só queria estudar, adquirir o saber. Pensei ‘não tô fazendo nada, meus filhos já estão criados’. Então comecei a trabalhar aqui, vi que era público e quis tentar. Eu deixei o tempo passar e fiquei muito parada, porque trabalhava em comércio e falei ‘vou trabalhar na Unesp, lá tem tudo que eu preciso’. Por isso, entrei na Unesp e participava do PEJA”.

Foi assim que a faxineira volta a estudar e tem a rotina completamente modificada. Maria Helena passava o dia todo na universidade. Trabalhava como faxineira das 6h30 até 15h30 e, logo em seguida, fazia o reforço no PEJA das 16h às 17h. Parava por cerca de uma hora para descansar e estudar. Às 19h ela ia para a aula no cursinho Primeiro de Maio que se estendia até 22h40, quando voltava para sua casa.

Em 2018, Maria Helena esqueceu o RG no dia do processo seletivo e acabou deixando de estudar no cursinho por um ano. Sem tempo para ir buscar, não conseguiu fazer sua matrícula, mas voltou ainda mais determinada em 2019.

Aprovação

Além da Unesp, ela prestou o Enem 2019, depois de mais um ano vivendo a jornada tripla de trabalho, PEJA e cursinho. No entanto, não conseguiu a tão sonhada vaga para cursar biologia. A pandemia começou no ano passado e as aulas passaram a ser online. Mesmo com as dificuldades, Maria teve determinação para conquistar a vaga.

“Não dava muito pra eu acompanhar as aulas online, mas eu estudava em casa, me dedicava ao máximo ali com os livros deles [professores] ali no meu saber e graças a Deus eu passei. Os professores foram maravilhosos”.

No dia 14 de junho, o sonho de Maria Helena começa a se realizar. A estudante vai até a universidade para uma apresentação presencial do curso e dos professores. Apesar de ser uma recepção diferente do que era realizada antes da pandemia, esse momento marca a conquista do sonho de uma vida e personifica em Maria Helena a ideia de que mesmo diante das desigualdades e dificuldades, sonhos podem encontrar espaço para se tornarem reais.

*Com informações do G1