Caso Marielle

CASO MARIELLE: PF desconfia da versão de delator sobre arma usada no crime após encontrar inconsistências

Élcio de Queiroz contou aos investigadores que Ronnie Lessa disse que a arma é uma submetralhadora que pertencia ao Bope

Marilia Pessoa
Marilia Pessoa
Publicado em 26/07/2023 às 17:27
Notícia
Renan Olaz/CMRJ
Marielle Franco, ex-vereadora morta em atentado no Rio de Janeiro - FOTO: Renan Olaz/CMRJ

A Polícia Federal suspeita que o ex-policial militar reformado acusado de efetuar os disparos que causaram a morte de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, Ronnie Lessa, pode estar escondendo a informação de quem forneceu a arma do crime.

Segundo a delação premiada, o seu comparsa Élcio de Queiroz contou aos investigadores que Ronnie Lessa disse que a arma é uma submetralhadora que pertencia ao Batalhão de Operações Especiais (Bope), da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

INCONSISTÊNCIAS

De acordo com o delator, Ronnie Lessa disse que adquiriu a arma após um incêndio no paiol do Bope. A PF considera a versão inconsistente, já que não encontrou rastros da arma nem evidências de uma investigação sobre o seu desaparecimento na Polícia Militar.

Segundo a PF, foram encontradas inconsistências relacionadas à suposta data em que Ronnie Lessa teria recebido a arma, após o incêndio no paiol do Bope em 1982.

As investigações revelaram que a data real em que o Batalhão de Operações Especiais recebeu a referida arma foi em 1983, ou seja, após o incidente do paiol.

Por outro lado, a Polícia Militar informou que não conduziu investigações sobre as causas do incêndio no paiol do Bope e que, não tem registros da arma em questão em seu banco de dados por causa de um alagamento ocorrido em 2016, que causou danos aos registros.

INCONTÊNCIAS NO DEPOIMENTO DE ÉLCIO DE QUEIROZ

Veja as inconsistências que foram encontradas pela PF no depoimento de Élcio de Queiroz:

  • Élcio Queiroz disse que Ronnie Lessa comprou a arma do Bope após ela ter sido extraviada em um incêndio no paiol do Bope na década de 1980;
  • A Polícia Militar do Rio disse que ocorreu um incêndio em setembro de 1982, mas que as armas só chegaram em janeiro de 1983 à corporação;
  • A PM afirmou que houve um outro incêndio em 1984 com sumiço de equipamentos, mas disse que nos registros não constam armas como a que foi utilizada no crime;
  • A PM informou que houve um alagamento em 2016 que destruiu parte de seus registros.

Conforme apontado pela PF, as inconsistências e lacunas de informações estão tornando o rastreamento da arma utilizada no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes uma tarefa difícil.

"Acerca do possível extravio de uma submetralhadora H&K MP5 relacionado a estes eventos, a corporação reputou como prejudicado o questionamento pela ausência de informações disponíveis em bancos de dados. Inclusive, apontou alagamento que destruiu diversos materiais e documentos no arquivo geral do BOPE em setembro de 2016", relatou a PF sobre a resposta da PM.

"Diante de tal resposta, os elementos coletados não permitem qualquer conclusão sobre a relação da arma usada na execução de Marielle Franco e Anderson Gomes e os referidos incêndios. Ressalta-se que as declarações de Élcio Queiroz sobre este assunto decorrem do que Ronnie Lessa teria dito, acarretando ainda mais incerteza e imprecisão sobre os fatos", completou.

Apesar das inconsistências, os investigadores estão levando em conta a possibilidade de que Élcio de Queiroz possa ter compartilhado informações baseadas no que lhe foi fornecido por Ronnie Lessa.

No entanto, dada a suspeita de que Lessa possa ter ocultado a origem da arma, Élcio pode ter reproduzido essa falsa narrativa, como avalia a Polícia Federal.

Outra hipótese em análise é que Ronnie Lessa tenha criado essa versão sobre a origem da arma para encobrir a verdade.

*Com informações do Terra e G1

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