ACIDENTE

18 ANOS ATRÁS: Avião 'fantasma' cai na Grécia após voar por 3 horas sem tripulação a bordo, com 121 ocupantes

Acidente marcou história da aviação

Vitória Floro
Vitória Floro
Publicado em 26/07/2023 às 22:17 | Atualizado em 26/07/2023 às 22:21
Notícia
Wikimedia
Boeing 737 da Helios que caiu na Grécia em 2005 - FOTO: Wikimedia

Há quase 18 anos, a queda do Boeing 737-300 da companhia aérea Helios nos arredores de Atenas, na Grécia, intrigou o mundo por ser considerado um voo "fantasma".

Em 14 de agosto de 2005, a aeronave voou por aproximadamente três horas sem tripulação no controle, até ficar sem combustível e cair, resultando na trágica morte de todos os 121 ocupantes a bordo.

As investigações revelaram que a falta de pressurização da cabine causou hipóxia (falta de oxigênio) tanto nos pilotos como nos passageiros, levando-os à inconsciência.

O piloto automático do Boeing 737-300 manteve a aeronave em voo aguardando novas ordens dos pilotos até que o combustível se esgotou.

Os problemas do voo 522 da companhia aérea Helios, de Chipre, começaram durante a rotina de manutenção no aeroporto de Lanarca, no Chipre.

Os mecânicos realizaram testes no sistema de pressurização da aeronave e, para isso, precisaram alterar o painel do avião para o modo manual. Após a conclusão do trabalho, era necessário retornar ao modo automático, no qual o avião seria automaticamente pressurizado à medida que ganhasse altitude após a decolagem.

No entanto, permanecer no modo manual estava fora dos padrões de voo, exigindo que os pilotos controlassem manualmente a pressurização da aeronave.

Apesar do erro cometido pelos mecânicos, a falha ainda poderia ter sido corrigida pelos próprios pilotos, tanto antes como após a decolagem.

Durante os procedimentos pré-voo, após a partida dos motores e após a decolagem, o botão que indica se o sistema está em modo manual ou automático deveria ser verificado.

Infelizmente, nenhuma dessas verificações foi realizada pelos pilotos, e a configuração incorreta passou despercebida.

Falta de pressurização

Durante o voo, à medida que o avião ganha altitude, o ar se torna cada vez mais rarefeito, com menos oxigênio disponível.

Para manter uma condição segura para os passageiros, a cabine é pressurizada, mantendo o ar equivalente a uma altitude de 8.000 pés (2.438 metros), ideal para o funcionamento adequado do corpo humano. Em altitudes mais elevadas, a falta de oxigênio pode dificultar a respiração e afetar o raciocínio humano.

No entanto, durante o voo, um alarme sonoro começou a tocar na cabine de comando, indicando problemas com a pressurização. Os pilotos tentaram identificar o problema, mas chegaram a relatar uma falha no sistema de ar-condicionado, sem perceberem a verdadeira origem do alerta.

Através do rádio, os pilotos conseguiram contato com o mecânico responsável pela manutenção prévia ao voo. Ao ouvir sobre o problema, o mecânico perguntou se o botão do sistema de pressurização estava configurado para o modo "auto".

No entanto, possivelmente já sofrendo os efeitos da hipóxia, o comandante não entendeu a pergunta e levantou-se para desligar o alarme, sem realizar a devida correção no sistema de pressurização.

Piloto automático

Se o problema fosse identificado a tempo, bastava girar um botão para que a pressurização fosse acionada. No entanto, o Boeing 737 continuava ganhando altitude sem ser pressurizado.

Ao atingir os 18 mil pés (5.486 metros), as máscaras de oxigênio caíram na cabine de passageiros. Nesse momento, boa parte dos passageiros ainda estava consciente e conseguiu vestir as máscaras.

O problema é que o estoque de oxigênio dura apenas 15 minutos, o que seria tempo mais do que suficiente para o avião descer a uma altitude de segurança.

No caso do voo Helios 522, no entanto, o avião seguiu a programação original do piloto automático. Apenas 13 minutos após a decolagem, os órgãos de controle de tráfego aéreo perderam contato com os pilotos do Boeing 737, mas o avião continuava ganhando altitude até chegar a 34 mil pés (10,4 mil metros). O Helios 522 seguiu em voo de cruzeiro até Atenas, o destino do voo.

Voando em círculos

Meia hora após a decolagem, o avião entrou no espaço aéreo de Atenas, mas sem fazer nenhum contato com os órgãos de tráfego aéreo. Já nos arredores da capital grega, o Boeing 737 começa a voar em círculo, cumprindo um padrão de espera em voo.

Sem conseguir contato de rádio com os pilotos, dois caças F-16 decolam para verificar de perto o que se passa com o avião da Helios. Até então havia o medo de que se tratasse de um possível sequestro do avião para um ataque terrorista.

Ao se aproximarem do Boeing 737, os pilotos dos dois F-16 avisaram que os passageiros estavam com suas máscaras de oxigênio, que o copiloto estava desmaiado sobre os comandos e que o assento do comandante estava vazio.

A surpresa maior veio quando o comissário Andreas Prodromou entrou na cabine dos pilotos e chegou a acenar para os pilotos dos F-16. Ele foi o único a se manter consciente durante o voo ao utilizar tubos extras de oxigênio.

Andreas tinha licença de piloto comercial, mas nenhuma familiaridade com os comandos do Boeing 737. Ele tentou, mas não conseguiu assumir o controle do avião, que seguia voando no piloto automático.

Depois de voar em círculo por mais de duas horas, o motor da esquerda apaga por falta de combustível. Dez minutos depois, é a vez do motor da direita ser desligado. O avião inicia uma descida fatal até se chocar nas montanhas da cidade de Maratona, a cerca de 40 quilômetros de Atenas.

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