ROUBO DE ARMAS

Cabo suspeito de roubo de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra de São Paulo era militar exemplar, com ficha limpa

Cabo do Exército Vagner da Silva Tandu desfrutava da confiança do então diretor do Arsenal, tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista

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Vitória Floro

Publicado em 30/10/2023 às 8:57
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O cabo do Exército Vagner da Silva Tandu, de 24 anos, identificado como um dos militares envolvidos no roubo de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra de São Paulo, em Barueri, na região metropolitana, surpreendeu as investigações do Comando Militar do Sudeste ao ser considerado um profissional exemplar e livre de suspeitas.

Segundo fontes do Exército consultadas pelo Metrópoles, Vagner desfrutava da confiança do então diretor do Arsenal, tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista, o que o levou a ser designado como seu motorista.

Além de demonstrar disciplina militar e aparente confiabilidade, Vagner tinha mantido um histórico até então irrepreensível. Não havia antecedentes criminais em seu nome, seja no âmbito da justiça comum, seja na justiça militar.

Essa integridade anterior permitiu ao cabo deixar o quartel, possivelmente entre os dias 5 e 8 de setembro, transportando as armas de fogo em um veículo oficial sem levantar suspeitas. As investigações revelam que ele levou as metralhadoras para fora do quartel com o objetivo de negociá-las com facções criminosas em São Paulo e no Rio de Janeiro.

No dia do roubo, outros cinco militares auxiliaram diretamente Vagner. As investigações sugerem que eles deliberadamente cortaram o fornecimento de energia do quartel, impossibilitando o registro da ação pelas câmeras de segurança.

Pedido de prisão

Em 26 de outubro, o Comando do Sudeste solicitou a prisão preventiva do cabo e dos outros cinco militares envolvidos no caso.

Neste dia, o cabo Vagner não compareceu ao trabalho no Arsenal de Guerra. No dia seguinte, ele apareceu no local na companhia de sua advogada e apresentou um laudo psiquiátrico como justificativa para sua ausência por mais uma semana.

Até o momento, a Justiça Militar ainda não se pronunciou sobre o pedido de prisão, o que impede que o cabo seja considerado foragido. De acordo com informações vindas do Exército, a advogada de Vagner tem mantido contato direto com o Ministério Público Militar para discutir a situação de seu cliente.

Além do pedido de prisão dos seis militares, o Exército impôs uma "punição disciplinar" a outros 17 militares devido a falhas em sua conduta na fiscalização do armamento. Essa sanção envolve uma forma de prisão administrativa nas instalações militares, com duração que pode variar de 1 a 20 dias.

O então diretor do Arsenal, tenente-coronel Rivelino Batista, não é formalmente alvo de investigação, mas foi destituído de seu cargo. Ele foi sucedido pelo coronel Mário Victor Vargas Junior.

A descoberta do furto

O roubo das 13 metralhadoras calibre .50, capazes de derrubar aeronaves, e das oito metralhadoras calibre 7,62, com capacidade de perfurar veículos blindados, só veio à tona no Exército mais de um mês após o incidente, em 10 de outubro, quando uma reportagem do Metrópoles tornou o caso público, três dias depois.

Até o momento, 17 das metralhadoras foram recuperadas: oito no Rio de Janeiro e nove em São Roque, no interior de São Paulo. As polícias Civil e Militar continuam em busca das quatro armas restantes.

Após a descoberta do crime, todo o quartel, composto por cerca de 480 militares, foi retido para possibilitar a coleta de depoimentos e a redução do número de suspeitos envolvidos no incidente. O aquartelamento foi encerrado em 24 de outubro.

De acordo com informações da Polícia Civil, as metralhadoras roubadas estavam destinadas à venda para as facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, que posteriormente recusaram as armas devido à falta de peças e ao estado de conservação das metralhadoras.

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