Golpe do "Pix errado": veja a nova artimanha dos golpistas e como se prevenir dela, segundo especialista
Criminosos vêm se escorando na boa fé das vítimas para praticar delitos por meio do "pix", modo de transferências cada vez mais difundido no Brasil
De acordo com dados de dezembro de 2022 da Gerência de Gestão e Operação do Pix, vinculada ao Banco Central (BC), mais de 90% das pessoas na faixa etária dos 20 aos 49 anos têm pelo menos uma chave pix.
O crescimento desse modo de transação bancária, principalmente após a pandemia, abriu margem para novos tipos de golpes, que vitimam principalmente os grupos com menos facilidade no manejo das novas tecnologias.
Surge então, um novo tipo de crime, conhecido como “Golpe do Pix errado”. Confira neste artigo como agem os criminosos e como se prevenir deste delito.
COMO FUNCIONA O GOLPE DO PIX ERRADO?
Esse golpe se fundamenta na exploração da boa vontade da vítima. Primeiramente, os criminosos transferem um valor para alguma chave-pix que seja um número de celular.
Com o número em mãos, os criminosos entram em contato com o alvo, alegando que alguém fez um pix errado para sua conta e que precisa daquele dinheiro de volta.
O primeiro movimento comum é checar se realmente foi feita alguma transação e neste caso, sim, a vítima constata que de fato recebeu uma transferência bancária.
Persuadidos pelos estelionatários, os vitimados transferem o valor recebido para uma outra conta solicitada, também dos malfeitores.
Este crime é praticado nas brechas do Mecanismo Especial de Devolução, que é justamente uma ferramenta criada pelo Banco Central para prevenir prejuízos oriundos de golpes ou de enganos nas transações pix.
Utilizando os próprios recursos anti-golpes do BC, os infratores solicitam o estorno da primeira transação, alegando terem sido vítimas de um golpe.
Ao analisar a transação, o sistema percebe que o dinheiro foi transferido para outra conta, o que para a ferramenta, indica a existência de um golpe.
Assim, o valor é retirado da conta da vítima real, e reposto na conta das supostas vítimas, que são na verdade os criminosos.
Como o vitimado já realizou ainda uma outra transferência pix, aquele valor é perdido em dobro.
COMO SE PREVENIR?
Para a advogada especialista em direito digital, Isabelle Sampaio, antes de tudo, é importante desconfiar de qualquer contato solicitando a devolução de valores.
“Fique alerta se o contato pressionar por uma devolução rápida e imediata, criando um senso de urgência para evitar a verificação da veracidade da situação”, recomenda.
Segundo a advogada, é primordial verificar se a conta fornecida para devolução é a mesma que fez o envio supostamente incorreto do dinheiro.
“Caso perceba que as chaves PIX não são as mesmas, entre em contato imediatamente com seu Banco para confirmar a solicitação de devolução”, afirma Sampaio.
A especialista sugere também que este contato seja realizado diretamente com o banco, por meio de seus canais oficiais. “Evite utilizar números de telefone fornecidos pelo contato suspeito”, complementa.
Para aqueles que possuem dificuldades com o uso de tecnologias no geral, a especialista trouxe três dicas essenciais de prevenção:
- Mantenha-se alerta em relação a solicitações inesperadas de dinheiro ou informações pessoais, especialmente por telefone ou mensagens
- Caso tenha dúvidas, peça auxílio a familiares ou amigos que tenham mais experiência com tecnologias
- Entre sempre em contato com a sua instituição financeira para verificar a situação
Atualização do MED do Banco Central
Ciente das brechas do mecanismo, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) sugeriu ao BC a elaboração do MED 2.0.
Atualmente o sistema consegue congelar um valor apenas na conta pela qual foi transferido. O que acontece, porém, é que o dinheiro é rapidamente distribuído pelos criminosos a várias contas diferentes, o que termina por burlar o sistema.
De acordo com a Federação, as atualizações do mecanismo devem ser elaboradas ao longo deste ano e do ano seguinte, com previsão de entrega apenas em 2026.