Estudantes pernambucanos criam purificador de água e vão à maior feira de ciência e engenharia do mundo
Com um projeto de baixo custo, alunos do Colégio Militar do Recife representarão o Brasil na feira Regeneron ISEF, nos Estados Unidos

Pedro Guerra e Vivian Azevedo, de 17 anos, alunos do Colégio Militar do Recife, foram os únicos representantes de Pernambuco selecionados para a Regeneron International Science and Engineering Fair (ISEF) 2025, que acontecerá de 10 a 16 de maio, em Columbus, Ohio (EUA).
A feira é conhecida por reunir os melhores projetos científicos de estudantes do ensino médio de todo o mundo, e a dupla pernambucana chega ao evento com um filtro sustentável e acessível, criado para purificar água contaminada por fármacos e corantes, uma solução de baixo custo e 95% de purificação.
Reconhecimento nacional e internacional
Pedro e Vivian já foram premiados na Mostratec - Liberato (Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia), que é considerada a maior feira de jovens pesquisadores da América Latina.
A Mostratec-Liberato é a feira brasileira mais antiga que participa da ISEF. Desde 1993, quando fez sua estreia, não deixou de comparecer no evento. Passados 32 anos, mais uma vez uma delegação de finalistas brasileiros, credenciados pela Mostratec-Liberato, representará o país nesse importante evento científico.
São 13 estudantes, que apresentam nove trabalhos, oriundos de oito Estados da federação: Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Maranhão, Amazonas e Amapá.
Projeto pernambucano na feira internacional
O estudante Pedro Guerra, que teve o projeto selecionado para a maior feira pré-universitária de tecnologia e engenharia, comentou sobre o sentimento de representar o único projeto pernambucano na feira.
“Eu acho que existe um estigma muito grande com relação à produção de ciência, de pesquisa e tecnologia em alto nível no Brasil e especificamente no Nordeste.
“Quando a gente olha para essas grandes manchetes internacionais de pesquisa e inovação, a gente sempre tende a olhar para os grandes polos de tecnologia, como Estados Unidos, Europa, principalmente a região da União Europeia, China, Japão, sendo que nós não pensamos no Brasil como um polo de tecnologia. E isso é ainda mais significativo pelo fato da gente estar solucionando o problema da nossa região. A gente não trabalhou com o nosso projeto para solucionar um problema geral ou genérico”, pontuou.
Filtro inteligente
Vivian Azevedo explica como a dupla chegou à pesquisa atual: “Queremos fazer algo que realmente consiga agregar socialmente, agregar economicamente, mas também que conseguimos ter essa conquista de realização própria”.
“Pensamos com a ideia primeiro de hidrogênio verde, mas justamente com a crise da Rússia e da Ucrânia, a crise energética da Europa, pensamos numa forma barata e rápida de conseguir uma fonte de uma nova fonte de energia. Entretanto, pesquisando um pouco mais, descobrimos a classe de materiais que trabalhamos, que é o MOF”, complementa.
Nas pesquisas, os estudantes descobriram que a água de certas regiões pernambucanas é contaminada por fármacos e corantes. “Essa é uma problemática real na sociedade contemporânea, nós somos uma geração das que mais consomem medicamentos. E nem todos os medicamentos que consumimos são totalmente absorvidos pelo nosso corpo”, explica o estudante Pedro Guerra.
“Grande parte deles vai ser liberado nas fezes, na urina e vai chegar eventualmente na água. Porque as estações de tratamento não têm tecnologia para remover esse tipo de composto. Ou seja, a água que bebemos em casa possui pequenas concentrações de medicamentos que não deveriam estar lá”, complementa.
Sob a orientação da professora Maria Goretti Cabral de Lima, os alunos usaram então a aplicação multifuncional de metal organic frameworks na descontaminação de corpos d’água.
Sobre a pesquisa
A suscetibilidade dos corpos hídricos às atividades antrópicas acarreta um problema generalizado de degradação desses ambientes e denuncia a iminente finitude da água potável em muitas regiões da Terra.
Nesse sentido, destaca-se a poluição por fármacos, irremovíveis pela maioria dos processos de filtração atuais e com impactos cada vez maiores nos recursos hídricos, e por corantes, que, utilizados em massa pela indústria têxtil e muitas vezes descartados sem tratamento adequado, produzem alterações na estética e na composição dos corpos d’água e têm impactos massivos nos ecossistemas aquáticos.
Assim, o projeto dos estudantes visa utilizar estruturas de metal-orgânico (MOF) como uma solução de baixo custo para purificação de água contaminada.
Vivian explica que a partir dessa ideia, o projeto foi criado: “Assim nós conseguimos desenvolver o projeto, que basicamente foi uma união justamente dessa classe de materiais, que é metal com os mofs, com uma base polimérica, e fizemos uma membrana, que serve como filtro para remover tanto fármacos quanto corantes da água”.
A solução desenvolvida por Pedro e Vivian é de um custo de R$ 2,00 a cada 200 litros de água purificada. “Então nós desenvolvemos uma membrana a partir de estrutura de metal orgânico capaz de envolver as quantidades de água, e a partir da fotocatálise, nós conseguimos quebrar as moléculas que retiramos da água em moléculas menores, num processo automático que só usa luz solar, e assim trabalhar com um ciclo autorrenovável de remoção de contaminantes, onde nós produzimos uma membrana por R$ 2,00 e conseguimos descontaminar até 200 L de água”.
Jovens pesquisadores
Para as novas gerações de pesquisadores pernambucanos, a dupla deixa o incentivo à ciência: “O maior conselho que eu e Vivian podemos dar como pesquisadores é: 'dê um passo de cada vez'. Nós sempre começamos pensando: 'o que eu posso fazer para melhorar o meu contexto? O que eu posso fazer para resolver tal problema na sociedade?'.
Isso é o ponto de partida para qualquer grande solução, qualquer grande pesquisa. É olhar para o micro, olhar para o que está ao nosso entorno, olhar para o que nós podemos mudar, começar a pesquisar e ter fé que as coisas vão começar a se organizar e crescer e tomar um desculpo cada vez maior”, afirma Pedro.
Vivian recomenda ter pessoas que acreditam em você: “Pesquisa não é fácil, pesquisa realmente é algo desgastante, é algo que demanda muito tempo, que vai dar errado, mas também vai dar certo, então, eu acho que o principal conselho que eu dou é justamente isso, ter alguém para se apoiar e sempre acreditar que o que você está fazendo, não vai ser em vão, você está fazendo algo justamente para melhorar a vida das pessoas”.