Ícones da Zona da Mata, abacaxi de Pombos e barro de Tracunhaém podem ganhar reconhecimento como Indicações Geográficas

Projeto da Adepe e do Sebrae investe R$ 2,9 milhões em busca de certificação para 13 itens com forte identidade territorial em Pernambuco até 2026

Publicado em 01/07/2025 às 20:44
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Com sabor doce e tradição moldada à mão, o abacaxi de Pombos e o artesanato de barro de Tracunhaém despontam como fortes candidatos da Zona da Mata a receber o selo de Indicação Geográfica (IG).

Concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o selo reconhece produtos ou serviços cuja qualidade, reputação ou características únicas estão diretamente ligadas à sua região de origem.

A candidatura faz parte de uma iniciativa da Agência de Desenvolvimento de Pernambuco (Adepe), em parceria com o Sebrae Pernambuco. Juntas, as instituições estão investindo R$ 2,9 milhões para fomentar, até 2026, o reconhecimento de 13 itens com potencial de IG em várias regiões do estado.

Abacaxi de Pombos

Conhecida como “Terra do Abacaxi”, Pombos está localizada a 57 quilômetros do Recife e é hoje a maior produtora da fruta em Pernambuco.

O município, na Mata Sul, possui cerca de 600 hectares voltados ao cultivo. O relevo, o clima, a temperatura e a umidade da região favorecem a produção de um fruto com sabor marcante e qualidade reconhecida.

A cultura do abacaxi é conduzida majoritariamente por agricultores familiares. Em 2023, a cidade registrou uma média anual de 16 milhões de unidades colhidas. A atividade representa cerca de 70% da economia local, com mais de cinco mil empregos diretos e indiretos.

Artesanato de Tracunhaém

Na Mata Norte, Tracunhaém se destaca como um dos principais polos de cerâmica figurativa e utilitária do Brasil. O artesanato em barro da cidade é herança de tradições indígenas com influências portuguesas e atravessa gerações.

A produção é marcada por peças que retratam figuras sacras e cenas do cotidiano nordestino, como feiras, festas populares e paisagens rurais. Elementos como pinhas, animais e o icônico leão de juba encaracolada — criado pela família do Mestre Nuca — são marcas registradas do município.

Além das peças artísticas, itens utilitários como panelas, vasos, tigelas e potes também integram a produção e movimentam a economia criativa da cidade.

O selo de Indicação Geográfica representa uma oportunidade concreta de valorização comercial, fortalecimento cultural e geração de renda para essas comunidades. Entre os benefícios estão o acesso a novos mercados, inclusive internacionais, a proteção legal contra imitações e o reconhecimento do patrimônio cultural imaterial.

O projeto da Adepe e do Sebrae prevê quatro etapas: diagnóstico, estruturação, submissão dos pedidos e acompanhamento técnico dos processos junto ao INPI. A previsão é que todas as fases sejam concluídas até 2026.

Para a Adepe, o avanço rumo ao reconhecimento das IGs é um passo estratégico para a valorização dos arranjos produtivos locais.

“É missão da Adepe fomentar o desenvolvimento dos arranjos produtivos de todo o Estado, em seus 184 municípios. O Projeto de Identificação Geográfica vem para dar destaque àqueles mais relevantes e torná-los exemplo da valorização do que é produzido em Pernambuco. O crescimento do nosso PIB dá sinais claros da importância da nossa agricultura e dos nossos arranjos produtivos e estamos muito felizes em sairmos na frente com este projeto ao lado de um parceiro tão importante como é o Sebrae Pernambuco”, detalhou o presidente da Adepe, André Teixeira Filho.

Segundo ele, o crescimento do PIB pernambucano reforça a importância do setor agrícola e dos arranjos produtivos regionais. “Estamos muito felizes em sair na frente com este projeto, ao lado de um parceiro tão importante como é o Sebrae Pernambuco”, completou.

Superintendente do Sebrae/PE, Murilo Guerra destaca que a iniciativa ajuda a valorizar a riqueza dos territórios pernambucanos e a promover o desenvolvimento dos pequenos negócios.

“A valorização do regionalismo tem se consolidado como uma estratégia importante para estimular o desenvolvimento econômico e social e ampliar a competitividade nos mercados nacional e internacional. O reconhecimento das Indicações Geográficas protege o conhecimento tradicional ao mesmo tempo em que agrega valor aos produtos e serviços locais”, enfatiza.

PROJETO

Além do abacaxi de Pombos e do artesanato em barro de Tracunhaém, outros produtos com forte identidade regional estão em análise para receber o selo de Indicação Geográfica (IG) em Pernambuco.

Entre os itens em processo de estudo estão o mel e o queijo coalho do Araripe; a manta caprina e ovina do Sertão do São Francisco; o artesanato em madeira de Sertânia; o café de Triunfo; e a renda renascença produzida em Poção.

Também integram a lista o queijo coalho do Agreste, o artesanato de barro de Caruaru e os tradicionais bolos regionais — de rolo, de noiva e Souza Leão —, que carregam séculos de tradição na confeitaria pernambucana.

Atualmente, o Brasil conta com cerca de 136 indicações geográficas reconhecidas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Em Pernambuco, apenas três produtos já possuem o selo: os vinhos do Vale do São Francisco, as uvas e mangas de Petrolina e o Porto Digital, no Recife.

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