Número de adolescentes que usam cigarro eletrônico no Brasil cresce; médico faz alerta

'Vapes' contém substâncias cancerígenas que podem afetar até quem só inala a fumaça; vício causa lesões pulmonares que exigem internamento

Publicado em 02/07/2025 às 11:35 | Atualizado em 02/07/2025 às 11:39
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Um em cada nove adolescentes brasileiros usa cigarro eletrônico, segundo estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgado recentemente. O número de usuários jovens do dispositivo já é cinco vezes maior que o de adolescentes que consomem o cigarro tradicional.

O cirurgião torácico Rodrigo Santiago, do Núcleo de Oncologia do Agreste (NOA), em Caruaru, faz um alerta sobre os riscos à saúde.

Cigarros eletrônicos continuam sendo comercializados após proibição da Anvisa

Apesar de os cigarros eletrônicos não serem regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a coordenadora da pesquisa e professora de psiquiatria da Unifesp, Clarice Madruga, aponta que a venda pela internet facilita o acesso.

Ela também comenta que o aumento do uso reacende uma preocupação que parecia controlada após as políticas antitabagistas iniciadas nos anos 1990.

O estudo usou dados do Terceiro Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad 3), com entrevistas realizadas entre 2022 e 2024. É a primeira edição da pesquisa que inclui o uso de cigarros eletrônicos.

Ao todo, cerca de 16 mil pessoas com 14 anos ou mais, de todas as regiões do país, participaram do levantamento. Quem apresentou uso problemático pôde ser encaminhado para tratamento no Hospital São Paulo ou no Centro de Atenção Integral em Saúde Mental da Unifesp.

Substâncias câncerígenas dos 'vapes' afetam quem tem contato com a fumaça

O cigarro eletrônico, também chamado de 'vape', possui um compartimento que armazena um líquido com alta concentração de nicotina, além de solventes como água, glicerina, propilenoglicol e aromatizantes.

Esse líquido é aquecido e inalado. Segundo a professora da Unifesp, a inalação de substâncias tóxicas chega a ser maior do que a provocada pelo cigarro tradicional.

Rodrigo Santiago destaca o potencial viciante da nicotina e os riscos para quem convive com usuários dos dispositivos. "Sem contar que, uma vez lançada ao ar, leva quem está ao redor a inalar substâncias cancerígenas, a exemplo do formaldeído. Outros metais pesados também são liberados no vapor, além de substâncias químicas usadas para saborização", acrescenta.

O médico também chama atenção para a EVALI (sigla em inglês para lesão pulmonar associada ao uso de cigarro eletrônico), identificada em 2019. A condição está relacionada à presença de acetato de vitamina E, tipo de óleo usado em alguns líquidos de vapes, que interfere no funcionamento dos pulmões.

A doença pode apresentar sintomas parecidos com os de infecções respiratórias, como gripe ou pneumonia. "Por isso a importância de se buscar ajuda médica. Uma vez diagnosticada, a doença é tratada via internamento, mediante uso de medicamentos como corticóides, antibióticos ou antivirais, assim como oxigênio", conclui o médico.

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