Henrique VIII da Inglaterra chocou os súditos ao divorciar-se de Catarina de Aragão para casar-se com uma empregada do reino, Ana Bolena. A igreja católica proíbe o divórcio e rompeu relações com o governante. Isso foi motivo de escândalo, o povo ficou contra o rei, levando a uma crise política e religiosa na época.
Toda a história citada diz respeito aos anos de 1490 até 1536, mas poderia encaixar-se perfeitamente nos dias atuais, com o tipo de política rasteira que vem sendo praticado nestas eleições. Intolerância religiosa, radicalismos, campanhas de difamação mútuas, covardia deliberada.
Voltamos ao século XIII sem nenhuma vergonha. E é sem vergonha também que os dois candidatos dão vazão aos fatos, com uma importância indevida e descarada. A campanha do primeiro turno foi um festival de e-mails com textos ligando os candidatos ao “demônio” e às “forças do mal”. A polêmica sobre o aborto deixou de cabelo em pé pessoas que esperavam uma discussão sobre os rumos econômicos e administrativos do país.
Temos dois candidatos que não merecem um voto digno. O Brasil precisa de administradores corajosos para implementar ideias e construir um novo futuro. Precisamos de um presidente com força suficiente para conduzir o país com a convicção de estar dirigindo um novo modelo de desenvolvimento social para o mundo. Precisamos de um presidente que saiba ser duro e maleável na medida certa e que se imponha.
O que temos? Uma candidata cuja sombra de Lula é maior que ela. Dilma Roussef não tem história e a que tem não pode ser contada. A Folha de São Paulo luta, há meses, na justiça para ter acesso à ficha da militante de esquerda que foi presa durante o regime militar.
O documento foi para o Tribunal Militar, uma decisão influenciada pela presidência da república que está escondendo documentos com a justificativa de não interferir na eleição. E se interfere na eleição, se interfere no julgamento das pessoas, não deveria ser tornado público? Afinal o que é democracia?
Temos uma candidata covarde, que defende opiniões de acordo com o que a população quer ouvir. Defende o aborto quando precisa chamar a atenção para ser candidata, mas é contra o aborto quando perde votos. Ela não está interessada nas próprias convicções, mas na popularidade. É candidata à presidência ou à cópia de Lula, com a popularidade astronômica do presidente. Talvez fosse mais fácil e menos falso colocar uma barba.
O que temos ainda? Um candidato cujas propostas atuais brincam com a inteligência do brasileiro. José Serra promete salário de R$ 600, abono natalino para o Bolsa Família e obras, obras, obras. Ignora que o salário de 2011 é fixado pelo Congresso em 2010. Ignora que não terá como mudar facilmente o valor do salário e terá que convencer os deputados e senadores a modificar a lei para chegar neste valor. Com o detalhe de que, se eleito, terá minoria no legislativo.
Ignora também o próprio pensamento da oposição e dele próprio, já expressado tantas vezes. Dizia que o Bolsa Família era assistencialista, que era uma esmola, que era o maior programa de compra de votos do mundo. Nada disso é mentira, mas José Serra resolveu “repensar”.
Não se diferencia em nada da adversária. Covarde também. Covarde porque também não consegue impor o que pensa, independente das pesquisas de intenção de voto. Covarde porque gritou durante os últimos anos contra Lula e contra os programas de governo, mas agora que se esperava que ele apresentasse uma alternativa para a fome e para a miséria no país, resolveu tentar ser Lula também, e propõe ampliar o criticado programa.
Também deveria colocar uma barba, sairia mais barato.
Isso só para citar pouca coisa dessa campanha suja, sem princípios e sem propostas que chega à reta final. Lamentável.
Em 1536, a pivô de toda a crise entre a monarquia inglesa e a Igreja teve a cabeça cortada dentro da Torre de Londres. Até agora, não temos notícias desse tipo no Brasil.
Até agora...
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