Reza a lenda que os bacamarteiros são encarregados de acordar os santos juninos. Assim sendo, os Bacamarteiros de Santa Luzia, no município de Belo Jardim, Agreste de Pernambuco, têm acordado a tropa celeste há mais de 100 anos.
Tanta longevidade deve-se, sobretudo, ao amor pelo ofício. A arte inclui desfiles, exibições de bravura, trajes azuis, chapéus de couro, sandálias, cartucheiras de flandres, pólvora seca socada em pilão, estrondos ensurdecedores e banda de pífanos.
As troças de bacamarte são inspiradas nos combates dos sertanejos que lutaram na guerra do Paraguai (1864-1870). Passado os anos de conflito, permaneceu a tradição e os atiradores festeiros ganharam espaço, sobretudo, no interior do país.
Sebastião de Amorim Ferreira, 67 anos, é o dirigente da Associação de Bacamarteiros de Santa Luzia. O agricultor conta que, quando criança, saia escondido para acompanhar o pai, que também era apaixonado pelo bacamarte. “Um dia, fugi e fiquei olhando a apresentação. Escolhi como esconderijo um ‘pé-de-pau’ e para minha surpresa, um dos atiradores mirou justamente ele. Quase morri de medo”, lembra o bacamarteiro.
Mas o susto não afastou Sebastião do sonho. Aos 12 anos, ele atirou pela primeira vez e, de lá para cá, já se passaram 55 anos de festejos sem parar nenhum ano. O grupo é formado por 33 homens, em sua maioria, agricultores da região que reservam um tempo para ensaiar as músicas e as performances na pequena Santa Luzia, localizada na zona de Belo Jardim.
Geralmente, a hierarquia da troça é quase militar e os bacamarteiros seguem ordens do comandante. Neste caso, há até um estatuto, o qual deve ser seguido e respeitado pelos membros da Associação. “Para participar é preciso ter força e coragem. Temos um ritual, sou muito exigente. Compramos a munição e possuímos a licença do Exército para fabricar a pólvora”, explica o líder.
Lamentavelmente, o grupo sobrevive do amor das gerações que marcham unidas e de convites, cada vez mais escassos, para apresentações. Mas, se depender da riqueza cultural e do entusiasmo pelo ofício, os Bacamarteiros de Santa Luzia não vão dar sossego aos santos juninos nem tão cedo.
A ARMA - O bacamarte é uma arma de fogo curta e de cano largo. É de grande calibre e foi muito usada nos séculos XVIII e XIX. Devido ao seu peso, de até 15 quilos, o seu disparo era feito amparado por uma espécie de ‘muro’, pois o disparo do ombro do atirador era impossível.
A MUNIÇÃO - É feita pelos próprios bacamarteiros com enxofre e nitrato, mas precisa de uma licença do Exército. Pela falta de chumbo em sua composição, o tiro não possui a capacidade de perfuração, mas se atingir uma pessoa, certamente, vai causar queimaduras graves. De acordo com Sebastião, desde que assumiu o comando da troça de Santa Luzia, há 30 anos, não houve nenhum acidente significativo.
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