Especial Vítimas do Tráfico: Afundada pelo crack e salva pelo amor de mãe, ex-dependente busca reescrever a própria história
De atleta promissora a dependente química, jovem narra como o tráfico seduz, destrói lares e transforma vidas em batalhas pela recuperação

No primeiro episódio da série especial Vítimas do Tráfico, exibido pela TV Jornal Interior na última terça-feira (8), a audiência conheceu a história impactante de uma jovem que viu seus sonhos desmoronarem após se envolver com o tráfico de drogas.
Aos 29 anos, a estudante de enfermagem e fisiculturista — que terá a identidade preservada e será chamada de Gisele — contou como o vício e o envolvimento com um traficante mudaram completamente o rumo de sua vida.
Gisele conheceu o rapaz que viria a se tornar seu namorado em uma academia, quando tinha apenas 17 anos. Foi nessa mesma idade que ela experimentou cocaína pela primeira vez. O fascínio por um estilo de vida de luxo, aliado à influência direta do companheiro, que era traficante e também usuário, abriu as portas para um mundo perigoso e destrutivo.
Vítimas do Tráfico - Episódio 1
“Eu não sabia que ele era traficante e usuário também. Logo após algumas semanas eu descobri. E, através de um pedido dele para entregar uma mercadoria, eu vi a cocaína. Naquele momento eu disse: ‘Vou experimentar’”, relatou Gisele.
O padrão de vida elevado, com carro, apartamento à beira-mar e festas exclusivas, escondia uma realidade de riscos constantes, mentiras e uso desenfreado de entorpecentes. “Eu sabia que não era normal. E aquele perigo que eu sentia, eu achava adrenalina”, contou.
Com o passar do tempo, os sinais de que algo estava errado se tornaram mais evidentes. Faltas na faculdade, abandono da rotina de treinos e um comportamento cada vez mais instável chamaram a atenção da mãe, que decidiu investigar pessoalmente no apartamento onde Gisele morava com a amiga.
"Essa pessoa (a amiga) foi quem me alertou, que ela (a filha) estava com um comportamento estranho e, inclusive, estava tendo amizade com pessoas estranhas, que não eram boas. E aí eu a surpreendi, porque eu ligava para ela e ela dizia que estava em um lugar (estando em outro). Foi quando começou a situação da mentira, um dos pontos que acontece quando as pessoas começam a usar essas coisas (drogas)", contou a mãe de Gisele.
Ao surpreendê-la no apartamento, descobriu uma quantidade alarmante de drogas dentro de casa. “Eu estava com sete quilos de cocaína. Daria prisão para mim. Minha mãe mandou eu tirar imediatamente, mas não se pode sair com 7 kg de cocaína na mão, né?”, lembra a jovem.
A mãe conseguiu levá-la de volta para a cidade natal, na tentativa de afastá-la do ambiente nocivo. No entanto, o vício falou mais alto. Gisele se envolveu com novas amizades e passou a usar drogas todos os dias. "Tinha acesso a droga em qualquer lugar. Tinha acesso em casa tanto de polícia quanto de traficante".
Foi nesse momento que ela teve contato com o crack. “Entrei num local onde o pessoal estava usando. Me colocaram na roda e acenderam o fogo. Quando puxei, foi uma sensação de outro mundo. Parecia que eu tinha apagado e voltado. Eu só pensei: ‘Quero mais’. Passei o dia inteiro naquela casa.”
A situação chegou ao limite quando, durante uma operação policial na comunidade em que vivia, Gisele foi encontrada em estado de extrema fragilidade. Foi nesse momento que decidiu pedir ajuda e iniciar o processo de reabilitação.
Após oito meses em uma clínica, ela hoje busca reescrever sua história. Com planos de terminar a faculdade de enfermagem e prestar concurso para a polícia, Gisele tenta recuperar o tempo perdido e reconstruir a relação com a família. “Algumas pessoas dizem que quero sair para voltar a usar, mas não é isso. Eu quero dar orgulho para minha mãe e para mim mesma.”
A trajetória de Gisele mostra como o tráfico de drogas não destrói apenas quem consome. Ele abala famílias inteiras, interrompe histórias e apaga sonhos.
Equipe responsável pelo especial:
Reportagem: Jean Ferreira
Imagens: Jobson Gonçalves
Auxiliar: Rodrigo José
Edição de Texto: Pedro Neto
Chefia de Reportagem: Helder Quaresma
Produção: Samara Morais
Edição de Imagem: Rayana França