Igreja no Agreste de Pernambuco é interditada por risco de desabamento

Com mais de 200 anos de história, templo foi interditado pela Fundarpe; fiéis mobilizam campanha de arrecadação de recursos para a restauração

Publicado em 15/10/2025 às 11:07 | Atualizado em 17/10/2025 às 13:48
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*Com informações de Wesley Santos, da TV Jornal Interior

Tombada há 40 anos pelo Estado de Pernambuco, a Igreja Matriz de Bezerros, no Agreste, tem passado os últimos dias sem poder receber os fiéis. O distanciamento se deu depois da interdição do imóvel em setembro de 2025, por risco de desabamento do teto.

Danos estruturais

O pároco Raphael Cordeiro procurou a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) para relatar sobre os problemas estruturais na cobertura da igreja.

No dia 22 de setembro, uma equipe técnica da Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural (DPPC/Fundarpe) visitou o local e constatou os danos no telhado de madeira de mais de 200 anos. À época da construção, a vida útil calculada para a estrutura era de 120 anos. O imóvel foi, então, preventivamente fechado.

Responsabilidade

Embora seja um patrimônio tombado (Decreto n° 10.715, de 09 de setembro de 1985), a responsabilidade de preservação ainda é do proprietário, nesse caso, a Igreja Católica.

O órgão tombador tem a missão de "verificar, periodicamente, o estado dos bens tombados e fiscalizar as obras e os serviços de conservação dos mesmos", conforme informa a nota da Fundarpe.

Matriz bicentenária

O templo foi erguido em 1805 como fruto de uma promessa. Na época, Zenóbio Bezerra Torres, um dos primeiros criadores de gado da região, rezou a São José dos Bezerros em prol da vida de sua filha, que havia se perdido. A menina foi encontrada íntegra e saudável, e a promessa foi cumprida.

Assim originou-se o que hoje é a Matriz de Bezerros, pertencente à Diocese de Caruaru. Por gerações, famílias inteiras foram batizadas, realizaram matrimônios e rezaram pela alma dos parentes que se foram dentro da igreja. Hoje em dia já não é mais possível manter a tradição.

Como ficam os fiéis?

Josefa de Oliveira, também conhecida por todos como Dona Zefinha, faz seu trajeto quase diário à paróquia. Anteriormente, ela podia entrar no templo, rezar, participar da missa e se encontrar com grupos, pastorais e movimentos.

Em entrevista à TV Jornal Interior, ela se mostra esperançosa pela reforma e mantém a fé de que poderá voltar a frequentar a casa de oração: "Com a ajuda do povo, se Deus quiser, a gente vai conseguir reabrir a igreja".

Campanha de restauração

Para realizar a restauração da igreja, a Paróquia São José iniciou uma campanha de arrecadação de fundos com a meta de R$250.000. Já foram arrecadados 50% do valor necessário, e as doações podem ser feitas através da chave pix criada: paroquiasjdosbezerros@gmail.com

Enquanto as obras não são concluídas, Dona Zefinha e os demais fiéis participam de celebrações na Praça ou na Capela do Colégio Nossa Senhora das Dores. O foco é garantir a segurança dos fiéis e a continuidade da vida religiosa da paróquia.

O que diz a Fundarpe?

Por meio de nota, a Fundarpe esclareceu que não tem, nas suas atribuições, a competência de interditar e tombar os bens patrimoniais existentes no Estado.

O processo de tombamento estadual envolve três entidades diferentes, cada uma delas com uma atribuição específica, cabendo:

  • À Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE) atuar como órgão gestor do Sistema de Tombamento, sendo a responsável pela abertura de processos de tombamento estadual;
  • À Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), órgão técnico, instruir os processo de tombamento e elaborar Exames Técnicos referentes aos bens;
  • Ao Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco (CEPPC/PE), deliberar e aprovar ou não os tombamentos.

"A entidade responsável pela decisão final do tombamento é o CEPPC, por meio de resolução, conforme previsto na Lei Estadual nº 7.970/1979 e Decreto 6.239/1980. Esclarecemos, ainda, que é missão da Fundarpe fiscalizar os bens tombados e garantir que seus proprietários tomem conhecimento dos danos existentes para a devida recuperação", diz trecho da nota.

Ainda segundo a Fundarpe, há orientação técnica para o procedimento de conservação e restauro, mas a Fundação não executa diretamente os reparos, salvo em casos excepcionais ou projetos específicos. "Cabe a tarefa ao proprietário ou possuidor legal do bem tombado, que é o principal responsável pela sua conservação, manutenção e reparos, de acordo com a legislação competente".

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