São milhares os devotos que se unem em Juazeiro do Norte (CE), cidade que possui a maior romaria do Nordeste. Eles encontram forças para subir ladeiras, maratonar em missas e novenários, visitar igrejas. Mas como será a preparação desses fiéis para uma viagem tão peculiar? Saindo de Caruaru (PE) com destino à cidade, são 471 quilômetros, em torno de seis horas de viagem. Mas antes de começar o trajeto, desviamos o caminho para encontrar um grupo de romeiros pernambucanos, em Gravatá.
O grupo rompeu a madrugada na estrada e estava com grande expectativa para mais uma romaria. Eles rezavam e cantavam para preparar o coração. Na linguagem do romeiro, há muitas graças alcançadas que precisam ser pagas. Os mais idosos já tiveram esta experiência mais vezes: é o caso de dona Doralice Teresa de Siqueira, 62 anos, que foi a Juazeiro pela décima vez em 2020.
Os grupos de romeiros ficam hospedados nos ranchos, pousadas locais especializadas em abrigá-los. Os romeiros podem ser vistos em toda a cidade, seja no comércio ou nas igrejas, que recebem centenas de visitantes.
Os romeiros fazem questão de cumprir um ritual: ao chegar ao Juazeiro, é preciso dar três voltas em um monumento na Igreja dos Franciscanos, na qual também se faz o passeio das almas, que é uma volta a pé em cima das mulharas da igreja. É também o momento de fazer preces e agradecer. Entre as igrejas mais frequentadas está o santuário do Sagrado Coração de Jesus. Conhecida como Igreja dos Salesianos, tem uma arquitetura de encher os olhos.
Mas o principal templo da cidade é a Basílica de Nossa Senhora das Dores. Em 1875, era uma capelinha. Padre Cícero resolveu mudar a história do lugar e decidiu construir um templo maior. Com o afastamento das funções de padre, ele não chegou a celebrar missa no local. Há ainda a Capela do Socorro, onde está sepultado o corpo do padre Cícero. As pessoas colocam objetos em cima do túmulo, na crença de que sejam abençoados.
Hoje, os romeiros tentam encontrar rastros do homem que para eles é considerado santo. As romarias de janeiro e fevereiro são movidas pela devoção a Nossa Senhora das Candeias, e a presença maciça é de peregrinos de Alagoas, Pernambuco e Paraíba. É tanta gente que é preciso pegar fila para cumprir as promessas. Mas ninguém reclama, é tudo sacrifício em sinal de fé. E nada explica a sensação do dever cumprido: é como tirar uma cruz das próprias costas e respirar aliviado.
A fé inexplicável e até inabalável deste povo nordestino é extravasada em simbolismos: a cada nó dado na fitinha dos três desejos, nas voltas em torno do enorme cajado do padre na estátua de concreto do Horto, na entrega de réplicas de membros que foram curados, nas imensas procissões. Tudo vira um ritual de demonstração de fé. A romaria é comunhão, é andando junto que se torna mais forte, e escutando a palavra que se abre o caminho a seguir.
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