Saúde

Fundação do Câncer aponta que tabagismo e coronavírus são combinação catastrófica

Diretor executivo aponta que fumantes têm mais risco de desenvolver forma grave da doença

Ana Maria Santiago de Miranda
Ana Maria Santiago de Miranda
Publicado em 19/05/2020 às 12:53
Markus Spiske/Pixabay
FOTO: Markus Spiske/Pixabay

O diretor executivo da Fundação do Câncer, Luiz Augusto Maltoni, afirmou que o tabagismo e o novo coronavírus são uma "combinação catastrófica". O tabagismo é um fator de risco para diversas infecções respiratórias, doenças vasculares, cardiovasculares e pulmonares. Por isto, a covid-19 tem o tabagismo como principal porta de entrada.

Luiz Augusto Maltoni afirmou que existe uma forte relação do tabagismo com o agravamento das condições dos pacientes que se infectam pela doença, com aumento da letalidade. Uma análise publicada na China comparou grupos de fumantes e não fumantes, e mostrou que a doença teve evolução mais grave com maior índice de letalidade no grupo de fumantes.

Alguns dos artigos mostraram que o número é 1,5 vez maior, outros, que é 2,4 vezes maior. "Ou seja, você mais do que duplica a chance de a doença se agravar e duplica os óbitos em relação ao grupo que não fuma", disse.

A Fundação apontou ainda que o uso do narguilé (cachimbo de água utilizado para fumar tabaco aromatizado) pode ser um agravante, já que o vírus se dissemina com facilidade através das gotículas de saliva contaminadas. "É um mecanismo de disseminação do vírus muito alto, a ponto de países como o Irã proibirem seu uso em bares e ruas pela possibilidade de propagação, porque passa de boca em boca. Também é uma associação muito perigosa", destacou Maltoni.

Os cigarros eletrônicos também podem trazer problemas para o organismo, já que contêm substâncias tóxicas como a nicotina, que é oferecida no formato líquido e forma um aerosol. Segundo o diretor executivo da Fundação do Câncer, essa inalação do volume de nicotina atinge a corrente sanguínea mais rápido do que o cigarro convencional. A substância é a principal causadora da dependência e afeta a imunidade celular em nível pulmonar, alteração do DNA da célula pulmonar, entre outros.

Estudo apontou que nicotina pode agir contra a covid-19

A Fundação do Câncer e outras seis entidades médicas divulgaram uma nota conjunta dizendo entender que "é muito precoce e arriscado" afirmar que haja potencial fator protetor da nicotina para a covid-19. Segundo as entidades, uma vez contaminados pelo novo coronavírus, os fumantes tendem a ter pior evolução do quadro, com mais gravidade e mortes.

Um estudo do Instituto Nacional do Câncer mostrou que o país gasta cerca de R$ 57 bilhões por ano com despesas médicas e perda de produtividade relacionadas a doenças provocadas pelo fumo. O estudo mostra ainda que o país arrecada R$ 13 bilhões de tributos por ano com a indústria do tabaco, o que significa que há um rombo de pelo menos R$ 44 bilhões para o sistema de saúde brasileiro. Todos os dias, 428 pessoas morrem devido ao tabagismo no Brasil.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou no dia 11 de maio que o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas anualmente em todo o mundo. Especialistas em saúde pública convidados pela organização analisaram os estudos relacionados à covid-19 e o tabagismo e constatou que os fumantes têm maior probabilidade de desenvolver doenças graves e complicações da infecção de forma mais grave em comparação a não fumantes.

A OMS se posicionou de forma contrária aos estudos favoráveis à adoção de substâncias como a nicotina para tratar pacientes com o novo coronavírus. A organização não cita o estudo francês que trata do tema, mas alerta que é preciso ter cuidado com recomendações sem testes realizados por instituições de credibilidade internacional.

Luiz Augusto Maltoni apontou que o trabalho francês não foi publicado em uma revista científica conceituada. Nestes casos, há análise por parte de um comitê editorial, o que não ocorreu. O diretor executivo da Fundação do Câncer classificou a pesquisa como "um equívoco imenso".

*Com informações da Agência Brasil