Audiência

Defesa de Sarí quer infantilizar acusada e adultizar Miguel, diz advogado

Primeira audiência de instrução sobre morte de menino após cair de prédio foi realizada nessa quinta

Ana Maria Santiago de Miranda
Ana Maria Santiago de Miranda
Publicado em 04/12/2020 às 8:17
Paulo Daniel/JC Imagem
FOTO: Paulo Daniel/JC Imagem

O advogado de Mirtes Renata Santana de Souza, mãe de Miguel Otávio Santana, disse nessa quinta-feira (3), após a primeira audiência de instrução do caso, que a defesa da acusada quer mostrá-la como uma "pessoa psicologicamente incapaz de antecipar o mal que poderia causar a uma criança ao deixá-la no elevador".

Sobre o comportamento da defesa de Sarí Côrte Real, Rodrigo Almendra afirmou que "há um processo de infantilização da acusada, narrada como psicologicamente incapaz de antecipar o mal que poderia causar a uma criança ao deixá-la em um elevador. Ao mesmo tempo, há um processo de 'adultização' de Miguel, ao tentarem transformá-lo, embora tivesse 5 anos, em um jovem, danado, travesso, que nessa condição seria capaz de se autogerir, autodeterminar. O que me parece negar a uma criança o direito de ser criança e de agir como criança".

Miguel morreu no dia 2 de junho deste ano, após cair do nono andar de um prédio de luxo no bairro de São José, na área central do Recife. A morte ocorreu após o garoto, então com cinco anos, ter sido deixado sozinho no elevador pela acusada, que era patroa da mãe dele. Trabalhando como empregada doméstica na residência, Mirtes estava passeando com o cachorro da patroa quando tudo aconteceu.

Em coletiva de imprensa na sede do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), Mirtes demonstrou revolta com a defesa da acusada. "Querem transformar meu filho em um demônio e Sarí em uma santa. É muito fácil fazer isso com quem já está sob sete palmos de terra. Miguel era apenas uma criança, era educado, caridoso, cheio de saúde, de vida, de sonhos para realizar", afirmou.

Sarí foi denunciada por abandono de incapaz com resultado em morte, com as agravantes de cometimento de crime contra criança e em ocasião de calamidade pública.

Audiência de instrução

Na audiência de instrução dessa quinta-feira (3), que durou quase oito horas, foram ouvidas oito testemunhas de acusação, na 1ª Vara de Crimes Contra a Criança e o Adolescente da Capital. Uma nona testemunha seria ouvida via videoconferência, mas o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) desistiu da oitiva, com o aval da defesa.

A oitiva das quatro testemunhas de defesa começou durante a tarde. Ao longo do processo, serão ouvidas ainda outras duas testemunhas de defesa por carta precatória, procedimento utilizado para ouvir testemunhas ou partes processuais que moram em outra comarca, de cidades ou estados diferentes. Uma testemunha de defesa faltou à audiência porque estava viajando. A ré ainda não foi interrogada.

Uma nova data será marcada pela Justiça para a ouvida da testemunha e de Sarí Corte Real. Quando todos forem ouvidos, a Justiça dará 10 dias para que a acusação e a defesa apresentem as alegações finais por escrito. Em seguida, o juiz dará a sentença.

*Com informações do JC