Médicos desaconselham nebulização com cloroquina em pacientes com Covid-19

Especialistas afirmam que os comprimidos podem causar danos ao sistema respiratório
NE10 Interior
Publicado em 25/03/2021 às 15:05
Cloroquina não é recomendada para nebulização Foto: Ministério da Saúde/Divulgação


Nesta quinta-feira (25), a Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT) alertou aos médicos a não fazerem nebulização com comprimidos triturados de cloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19. A entidade afirma que os comprimidos podem causar danos ao sistema respiratório e contaminar o ambiente ao redor com partículas virais.

"Uma das práticas que tem se difundido, inclusive com apoio de políticos e formadores de opinião, é a inalação de comprimidos de cloroquina macerados [triturados] e diluídos em soro fisiológico. Essa prática é certamente danosa ao já combalido sistema respiratório do paciente", alerta a SPPT em nota.

O comunicado da SPPT foi publicado depois que três pacientes morreram no Rio Grande do Sul ao fazerem nebulização com a hidroxicloroquina, que é semelhante à cloroquina. Nenhum dos dois medicamentos possui eficácia comprovada cientificamente contra o coronavírus e nesta semana a Associação Médica Brasileira defendeu que as medicações sejam banidas no tratamento dos pacientes com a doença.

A sociedade destacou ainda na nota que a cloroquina tem talco e "substâncias agressoras" em sua composição. O acúmulo dessas substâncias nas vias respiratórias pode desencadear outros problemas de saúde nos pacientes e, alguns deles, aparecem a longo prazo, como a insuficiência respiratória crônica. Portanto, a nebulização com cloroquina é desaconselhada pelas autoridades de saúde.

Veja a nota na íntegra:

"Alerta da SPPT sobre inalação de comprimidos como tratamento para COVID19

A Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia vem esclarecer seus associados e a comunidade de profissionais atuando em saúde respiratória sobre os riscos de condutas e procedimentos sem respaldo científico que têm sido realizados em pacientes com COVID19.

Um dos princípios da medicina é o Primum Non Nocere, antes de tudo, não fazer mal ao paciente. Frente a uma pandemia de uma doença respiratória que tem tirado a vida de milhares de Brasileiros todos os dias, é compreensível que colegas queiram tentar medidas extremas na esperança da sua conduta trazer um benefício a quem está sob seus cuidados. No entanto, procedimentos reconhecidamente perigosos e sem comprovação de benefício podem, inadvertidamente, contribuir para a piora clínica dos doentes e, também, colocar em risco toda a equipe assistencial.

Uma das práticas que tem se difundido, inclusive com apoio de políticos e formadores de opinião, é a inalação de comprimidos de cloroquina macerados e diluídos em soro fisiológico. Essa prática é certamente danosa ao já combalido sistema respiratório do paciente.

Cabe lembrar que o comprimido tem na sua composição talco que é um silicato e outras substâncias agressoras. Quando inaladas essas substâncias podem causar broncoespasmo e se depositam no pulmão e vias aéreas causando uma reação inflamatória. Essa inflamação aguda se somando à inflamação pulmonar pela infecção viral tem o potencial de agravar o quadro. Em nenhuma diretriz para tratamento de nenhuma doença é recomendado o uso de comprimidos por via inalatória. O acúmulo desse material pode, inclusive, causar consequências a longo prazo como insuficiência respiratória crônica.

O uso de medicações inalatórias por nebulização na COVID19 deve ser sempre cauteloso pelo potencial de aerolização e contaminação do ambiente com partículas virais. Isso adiciona risco ambiental ao já perigoso procedimento.

Deixamos aqui o nosso apelo para que em nenhuma circunstância seja prescrita ou administrada inalação com comprimidos macerados.

Desejamos a todos muita saúde e força no enfrentamento diário da pandemia!

Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia."

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