Qual a origem da festa junina de Caruaru? Conheça história do maior São João do mundo

Historiadores relatam o início da festa que hoje é considerada a maior e melhor do mundo.
Hanna Aragão
Publicado em 04/06/2021 às 14:11
A abertura conta com grandes nomes da música como Elba Ramalho, Solange e Claudia Leitte Foto: Jorge Farias/Divulgação/Prefeitura de Caruaru


O São João é um pedaço de Caruaru, no Agreste de Pernambuco. A festa não é só uma das mais populares como a marca registrada da cidade que carrega o legado de ser a Capital do Forró. Uma história tão marcante não poderia passar despercebida.

Por isso, no especial de São João da TV Jornal, o NE10 Interior resolveu contar a história de como começou o São João, conhecido como o maior do mundo. Conversamos com os historiadores Walmiré Dimeron e Daniel Silva que contaram como surgiu e como está hoje o São João de Caruaru.

Como começou o maior São João do mundo?

A história de como começou o São João está diretamente ligada a história de surgimento de Caruaru, já que as festas juninas eram celebradas na época em que Caruaru era apenas uma vila. Segundo o historiador Wamiré, as festas juninas eram festas rurais, celebradas ainda na época da vila e por isso não há registros que especifiquem uma data ou ano que a festa tenha começado.

São João de Rua de Caruaru
Reprodução/Walmiré Demeron/Arquivo Pessoal

"Nelson Barbalho em seu livro 'Caruaru de vila à cidade', cita os festejos juninos de 1854 e 1856 (ainda na época da Vila) como "muito animados". Há registros, de que em 1920, o governador do Estado transferiu sua residência para Caruaru no período junino, de onde realizou os despachos oficiais. Nessa mesma década, e, na seguinte, encontramos descrição de programações juninas em clubes sociais como na sede do Central Sport Club e do Casino Caruaruense, com bailes, recitais de poesia e nenhuma referência a ritmos ligados ao forró", explicou o historiador.

Walmiré também afirma que até os anos de 1950, os maiores festejos eram realizados em sítios e fazendas em regiões ao redor da cidade, mas já apresentavam características bem parecidas com as festas juninas tradicionais com quadrilhas, fogueiras, música e comida. Em seguida, na década de 1960, as ruas da cidade começam a ser enfeitadas pelos moradores que também investiam em festejos juninos tradicionais.

São João de Rua de Caruaru
Reprodução/ Walmiré Dimeron/ Arquivo Pessoal

"Os próprios moradores interditavam uma rua, coisa que era muito comum, menos burocrática, e mais espontânea. Essas ruas faziam pequenos arraiais, os homens construíam as palhoças, as mulheres se reuniam numa determinada casa, ou cada uma fazia parte da comida, e as crianças ajudavam na decoração dessa palhoça. Alguns colocavam um som mecânico, uma radiola, e quem tinha mais condições contratava um trio de forró ou uma banda de pífanos", relatou Walmiré.

A partir disso, começam a ser realizados concursos de ruas mais enfeitadas e concursos de quadrilha patrocinados por empresas e rádios locais, com as famosas caravanas de artistas. A ação estimulou o crescimento do São João de Rua e algumas ruas começaram a ficar muito famosas pelas festas como é o caso da Av. Rio de janeiro, 03 de maio, Capitão Zezé, 27 de janeiro e São Roque.

O crescimento

O que era um evento espontâneo e tradicional, começa a ganhar olhares da prefeitura que vê na festa um potencial turístico e de crescimento. Então, a partir da década de 80, a prefeitura começa a fazer os primeiros experimentos de centralizar a festa. Principalmente por perceber que as pessoas da zona rural voltavam à cidade para celebrar o período.

"Primeiro, montou-se o 'Circo do Forró', ao lado da Casa de Cultura José Condé, no Parque 18 de Maio. Ele foi remontado depois no Espaço Cultural Tancredo Neves (que estava em construção). Em seguida, o São João passa a ser organizado na Estação Ferroviária e na Avenida Rui Barbosa, até a inauguração do Pátio de Eventos Luiz Lua Gonzaga, em 1995", explicou Walmiré.

O Pátio do Forró

A construção do Pátio de eventos Luiz Gonzaga, começou a ser construído aproximadamente no ano de 1993, sendo inaugurado em 1995. Conhecido como Pátio de Forró. Junto com a inauguração do local, também foi criado a Vila do Forró que ficava localizada em um setor do Pátio de Eventos.

Pátio do forró antigamente
Reprodução/Prefeitura de Caruaru

A vila foi projetada pelo arquiteto Gilson Lima. No entanto, em 2011, a vila foi demolida, com a justificativa de que daria mais espaço para abrigar mais pessoas durante as festas de São João no Pátio.

O Pátio do Forró também abriga o Espaço Cultural Tancredo Neves e os Museus do Forró, do Barro e da Antiga Fábrica de Caroá. Além de ter uma estátua com aproximadamente 5m de altura em homenagem aos 95 anos de nascimento de Luiz Gonzaga, o rei do baião. A estátua foi construída em 2007 e fica localizada na entrada do pátio de eventos que leva o mesmo nome do artista.

Comidas Gigantes

Durante o São João é muito comum também a realização das comidas gigantes. A tradição consiste em cozinhar comidas tradicionais dos festejos juninos em proporções gigantescas. De acordo com o historiador Daniel Silva o início das comidas gigantes se deu por um processo inverso ao crescimento do São João. Enquanto, o São João de Rua migrava para áreas centrais, as comidas gigantes apareciam justamente para manter a tradição de rua viva.

800 kg de flocos de milho com diversos acompanhamentos foram servidos na ocasião
Arnaldo Félix

"Muitas pessoas que viviam na zona rural vinham para Caruaru para celebrar a festa junina, que era a festa junina da fogueira, das brincadeiras, do forró, das comidas de milho, da palhoça e da quadrilha. Mas Caruaru começou a ficar grande demais, e a festividade estava mais relacionada ao centro. Então, começa a surgir o processo contrário. As pessoas dos bairros começam a pensar 'meu São João não era assim', contou Daniel.

O historiador Walmiré, conta que a tradição começou no ano de 1999, na Rua Mestre Tota. Moradores do local se reuniram e criaram a Festa da Pamonha Gigante para animar o São João da rua. A princípio a pamonha gigante começou com 50 kg e já chegou perto dos 250 kg. Com o sucesso, outros moradores de outros bairros da cidade se mobilizaram e foram promovendo outras festas, dentro da temática.

Bolo de rolo gigante é uma das comidas gigantes mais tradicionais
Reprodução/ Janaina Pepeu

As comidas gigantes que já passaram pela cidade foram: Maior Cuscuz do Mundo; Bolo de Milho Gigante; Maior Pé-de-moleque do Mundo; Canjica Gigante; Mungunzá Gigante; Maior Pipoca e Maior Salgadinho do Mundo; Maior Arroz Doce do Planeta; Maior Broa de Milho do Mundo; Maior Cozido de Milho do Mundo; Festival de Milho do Murici; Festa do Mungunzá; Maior Xerém com Galinha do Mundo e a Cangica Gigante de Peladas.

"Essas festas nasceram de iniciativas de moradores, na área urbana da cidade, depois, se estenderam à zona rural. Hoje, em sua maioria, contam com patrocinadores e apoio oficial e estão organizadas através da Associação dos Idealizadores das Comidas Gigantes de Caruaru", afirma Walmiré.

Em 2019, último São João realizado em Caruaru, devido a pandemia do novo coronavírus, foram realizadas 36 festas das comidas gigantes na zona urbana e seis na zona rural.

São João como é hoje

Desde a centralização do São João de Caruaru, as gestões da cidade enfrentam várias críticas em relação as atrações. Como a cultura do São João é muito forte na cidades, muitos moradores relatam que a festa perdeu a essência por trazer programações nacionais mais do que regionais. O professor Daniel explica, que a festa está assim porque não é mais um evento espontâneo, e sim um produto turístico.

"São festas destinadas a um público turístico, um público pop, a uma cultura consumista, capitalista. É um São João que alega defender as tradições, mas que toma decisões não defendendo as tradições. Isso não é uma particularidade de Caruaru, é uma particularidade de todas as festas", disse.

Pátio no São João de 2019
Reprodução/Prefeitura de Caruaru

Desde 2017, a prefeitura desenvolveu maneiras para descentralizar o São João e levar a festa para todos os distritos da cidade. Em 2019, foram seis polos culturais, e o São João na Roça, que levou programações para comunidades da zona rural Juá, Malhada de Barreira Queimada, Malhada de Pedra, Peladas, Cachoeira Seca, Xicuru e Terra Vermelha. Além do polo principal no Pátio de Eventos, o São João contou com o Polo Alternativo, o Polo Infantil, Polo Juarez Santiago na Estação Ferroviária, e a Casa do Forró.

Pelos palcos de Caruaru já passaram grandes atrações tradicionais como Alceu Valença, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Dorgival Dantas, Dominguinhos e outros. Além de nomes nacionais como Wesley Safadão, Alok, Marília Mendonça, Xand Aviões, Simone e Simaria e outros.

Sendo tradicional ou não, todos estão com saudades do maior e melhor São João do mundo, que, pelo segundo ano consecutivo, não vai acontecer, devido a Covid-19. Esperamos em breve poder estar todos juntos festejando e fazendo o que o caruaruense mais sabe fazer: dançar forró.

Este conteúdo é exclusivo para assinantes JC

O seu conteúdo grátis acabou

Já é assinante?

Dúvidas? Fale Conosco

Ver condições

Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory