Um estudante do quinto ano de medicina veterinária, que mora na cidade de Matão, em São Paulo, relatou que no dia 4 de março deste ano tomou a segunda dose da vacina CoronaVac, contra a Covid-19. Um mês depois de estar imunizado, Giovanni Reggi Bortolani, de 22 anos, visitou a família em um jantar e todos os que estavam presentes contraíram a doença.
Casos semelhantes a este têm se tornado cada vez mais frequentes. Mesmo após tomar a segunda dose da vacina, as pessoas acabam contraindo a doença e isso levanta dúvidas a respeito da eficácia dos imunizantes. No entanto, médicos e especialistas explicam que é sim possível contrair a doença, mesmo após receber a segunda dose da vacina e após a conclusão do período do ciclo imunização após a aplicação da dose.
Isso acontece porque as vacinas disponíveis atualmente contra o coronavírus protegem, principalmente, contra o desenvolvimento de formas graves da doença. É o que explicou, ao jornal O Globo, Rosana Richtmann, infectologista do Hospital Emílio Ribas e do comitê de imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
"Quando falamos da importância da vacinação não é que a pessoa vai estar totalmente livre de pegar a doença. Mas a chance dela ser internada, intubada e ter complicações cai expressivamente e assim combatemos a pandemia", aponta Richtmann.
A especialista destacou que nenhuma vacina tem 100% de eficácia e que, apesar das diferenças do percentual de eficácia de um imunizante para o outro, todas as vacinas disponíveis para vacinação atualmente garantem a prevenção de casos moderados e graves entre 75% a 80% com as duas doses.
Uma pesquisa a respeito da vacina CoronaVac, feita pelo Ministério da Saúde do Chile, apontou que ela é 67% efetiva na prevenção da infecção sintomática. O mesmo imunizante tem eficácia de 85% para prevenir internações e de 80% na prevenção de mortes pela Covid-19.
No caso da vacina Oxford/AstraZeneca, o percentual de eficácia na prevenção do desenvolvimento da doença é de 85% a 90%, de acordo com a Public Health England (PHE). Especialistas ressaltam ainda que, além do tipo do imunizante, o organismo e o sistema imunológico de cada paciente varia.
A infectologista da Unicamp e consultora da SBI Raquel Stucchi, destaca que há, basicamente, três grupos de pessoas com relação às reações da vacina: quem desenvolve uma boa formação da imunidade celular e não adoece; aqueles que criam resposta parcial e podem ter casos leves; e uma minoria que desenvolve poucas células de defesa e pode ter casos moderados e graves.
"Os pacientes que não desenvolvem imunidade a partir da vacina são na maioria idosos (devido ao processo de envelhecimento natural do sistema imunológico), imunodeprimidos e pessoas com comorbidades como obesidade e diabetes", diz Stucchi.
As vacinas, após fazerem "efeito" no sistema imunológico, servem para trinar as células para combater o vírus. É o que explica o imunologista Daniel Mansur, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que destaca ainda que, em parte dos casos, a quantidade de células treinadas não é suficiente para combater o antígeno. É a partir daí que ocorre a contaminação.
"O vírus não é uma entidade estática. Ele se multiplica, tem seus próprios mecanismos de defesa e vai usar de tudo para continuar se replicando. É uma “corrida armamentista”, e onde tiver menos resistência pode surgir a doença", explica Mansur.
A infectologista Raquel Stucchi ressalta também que, por causa da capacidade do vírus em infectar o organismo mesmo após a imunização completa, é importante manter os cuidados de prevenção tendo em vista a proteção individual e coletiva.
"A gente insiste que a vacinação não é um ato individual, mas coletivo. Com muita gente vacinada diminui as internações e tende a diminuir a circulação do vírus. Assim a chance dessas pessoas cujo sistema imunológico não respondeu à vacina adoecerem diminui muito"m destaca Stucchi.
*Com informações do jornal 'O Globo'
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