O Governo de Jair Bolsonaro foi avisado em agosto de 2022 sobre as graves consequências do garimpo ilegal para o povo Yanomami, mas decidiu não tomar providências sobre o assunto, revela reportagem do portal UOL. O alerta foi feito por meio de um relatório enviado pela Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) ao Ministério da Justiça. Durante a presidência de Bolsonaro, quase 600 crianças Yanomami morreram, muitas delas vítimas de desnutrição e malária.
De acordo com a investigação do UOL, o documento da Funai mostrava fotos e relatos que comprovavam os impactos negativos dos garimpeiros contra os indígenas. No relatório, o presidente da Funai, Marcelo Xavier, pediu a tomada de medidas "urgentes, efetivas e assertivas". No entanto, diz a reportagem, o ofício foi arquivado em 48 horas.
Há quase um ano, em 25 de maio de 2022, um servidor da Funai sobrevoou o território Yanomami. O objetivo da visita era reunir informações sobre o garimpo ilegal para a realização de uma operação conjunta com o Ministério da Justiça. A operação, no entanto, jamais aconteceu.
Ao longo de 800km percorridos, o servidor da Funai localizou 32 focos ativos de garimpo ilegal. Além disso, foram encontrados 18 pistas de pouso, 13 pontos de apoio e três portos nos rios, incluindo o Porto do Arame, considerado a "principal rota" dos garimpeiros.
Aviões, embarcações, tendas e até antenas de satélite para captação do sinal de internet no meio da floresta apontavam a força e poder que o garimpo ilegal tinha dentro da Floresta Amazônica durante o antigo governo.
Imagens que constam no relatório provavam os impactos ambientais do garimpo que afetam a saúde dos Yanomami. No rio Uraricoera, havia uma clara mancha de resíduos de garimpo, o que, de acordo com os especialistas, mata peixes - inviabilizando a pesca - e contamina a água consumida pelos Yanomami.
Já no rio Parima, as imagens mostram uma vasta área de desmatamento, que afugenta os animais da caça.
"Foram identificadas várias e extensas áreas de atividade intensa de garimpo ilegal com os registros fotográficos e de coordenadas geográficas, além da indicação das pistas de pouso que estão sendo utilizadas pelos garimpeiros", escreveu, no relatório, o presidente da Funai, Marcelo Xavier, pedindo que o Ministério da Justiça coordenasse uma operação contra os garimpeiros.
A investigação do portal UOL aponta que o relatório foi movimentado por apenas 48 horas no governo Bolsonaro. Veja a linha do tempo:
Então vice-presidente do país, na época, Hamilton Mourão era também presidente do Conselho da Amazônia. Em 30 de agosto de 2022, demostrou conhecimento do problema.
A ata da reunião do conselho daquele dia registrou: "[O vice-presidente] Informou que garimpeiros continuam invadindo a área yanomami e que, por esse motivo, há necessidade de ser deflagrada uma operação de grande envergadura". A informação foi publicada pela Agência Pública e pelo UOL.
Em entrevista ao UOL, Mourão, que hoje é senador, disse que a operação deixou de ser feita por falta de dinheiro.
"Entrou período eleitoral, estava com grande dificuldade de recursos nos ministérios. Uma operação custa dinheiro porque tem que mobilizar aeronave, hora de voo, trazer gente de vários lugares do país. Ela não é barata. Não foi feito pedido formal nenhum, já tínhamos feito várias operações [na Amazônia]. [...] Em áreas inóspitas e mais afastadas como é a TI Yanomami requer uma mobilização maior de meios e de pessoal", afirmou Mourão.
O UOL procurou, mas não teve respostas do ex-presidente Jair Bolsonaro nem do ex-ministro Anderson Torres.
A presença do garimpo também levou malária à Terra Indígena. Somente em 2022, mais de 70% do povo Yanomami contraiu malária.
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