Especial Vítimas do Tráfico: Dependente químico, jovem tenta recomeçar com apoio da mãe que nunca o abandonou

Aos 29 anos, Matheus vive um desafio diário: reconstruir a própria vida depois de mergulhar, ainda na adolescência, em um ciclo de dependência química, violência e sofrimento. Sua história foi contada no terceiro e último episódio da série especial Vítimas do Tráfico, exibido pela TV Jornal Interior na última quinta-feira (10), e escancarou o impacto silencioso e devastador que o tráfico de drogas exerce sobre milhares de jovens brasileiros.

Criado apenas pela mãe, Adalvanira, Matheus era uma criança doce e inteligente. Mas tudo mudou quando, aos 13 anos, experimentou seu primeiro cigarro de maconha. Aos 17, já usava cocaína.

A mãe, atenta, percebeu as mudanças. “Comecei a notar um comportamento diferente dentro de casa. Toda mãe conhece o filho que tem. cheguei para o irmão dele, que era um adolescente também, e disse 'Michel tem alguma coisa de errado com Mateus, por que tu não vai observar ele pra ver o que ele tá fazendo'. Aí foi onde o meu filho mais velho descobriu que Mateus tava usando maconha”, lembra Adalvanira.

Aos 18, Matheus deu os primeiros passos no tráfico. O dinheiro fácil e a adrenalina das ruas o seduziram, e logo ele passou também a cometer assaltos. “Foi agravando, agravando... comecei a roubar sem pena de ninguém”, revelou.

Vítimas do Tráfico - Episódio 3

A trajetória no crime durou pouco. Preso e condenado, Matheus passou dois meses atrás das grades — tempo suficiente para que os primeiros sinais de esquizofrenia surgissem. Ele passou a ver vultos e ouvir vozes. “Ele passou 59 dias e a gente tirou, o irmão dele que foi buscar ele no presídio daqui de Santa Cruz. Quando ele chegou eu senti que tinha alguma coisa de errado. Ele começou a surtar dentro de casa, via coisas, dizia que estava sendo perseguido”, relatou a mãe.

O psiquiatra Dannilo Isidoro explicou que a dependência química costuma se instalar de forma progressiva. “Começa com uso recreativo. Esse padrão de uso, quando ele é repetitivo, vai gerando uma tolerância, ou seja, a pessoa vai necessitando de cada vez mais doses para atingir aquele efeito que ele iniciou. A longo prazo vai gerando a necessidade do uso para evitar o desconforto da abstinência. Quando isso acontece, nós temos o que chamamos de dependência química”, explicou.

Matheus tentou ajuda em clínicas de reabilitação, mas teve experiências traumáticas. “Na primeira clínica ele ficou mais de um ano. Mentiram muito para mim, disseram que meu filho estava bem e no final das contas quando eu fui ver, meu filho não estava sendo tratado, ele foi até agredido lá nessa clínica. Depois fui buscar ajuda em outra. Não deu certo. Aí entrei em contato com minha nora, conversei com ela, a gente passou uma tarde aqui pesquisando”, disse Adalvanira.

Confira os episódios anteriores da série especial 'Vítimas do Tráfico'

A história de Matheus é também a de milhares de brasileiros. De acordo com a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, mais de 10 mil pessoas foram presas em flagrante por envolvimento com o tráfico entre janeiro de 2024 e fevereiro de 2025.

Mas apesar do passado sombrio, há um fio de luz. Guiado pelo amor incondicional da mãe e pelo desejo de recomeçar, Matheus segue em busca de recuperação. “Obedeça seus pais, suas mães. Não é fácil ver um filho nas drogas ou no crime. Não vá por certas amizades”, aconselhou o jovem.

Adalvanira finaliza com um recado direto para os jovens: “Para filhos rebeldes, essa juventude de hoje, quando um pai e uma mãe dá um conselho, eles olham para você e dizem que você é cafona, que você é uma atrasada. Aí no final das contas, aquela atrasada, aquela cafona é quem só quer teu bem.”

Equipe responsável pelo especial:

Reportagem: Jean Ferreira
Imagens: Jobson Gonçalves
Auxiliar: Rodrigo José
Edição de Texto: Pedro Neto
Chefia de Reportagem: Helder Quaresma
Produção: Samara Morais
Edição de Imagem: Rayana França