Os irmãos Lucas, de 13 anos, João, 15, Luan, 17, Eduardo, 19, e Henrique, 21, viveram por cerca de dois anos em uma casa de acolhimento na cidade de Bezerros, no Agreste de Pernambuco. Há aproximadamente 10 anos, eles foram adotados por três casais italianos e convivem juntos no país estrangeiro. Uma vez por mês, eles se encontram para passear, assistir televisão, jogar futebol, entre outros.
Na semana passada, os mais novos - Lucas e João - retornaram ao Brasil com a mãe, a empresária italiana Elisa Sidari, para reencontrar amigos e cuidadores da casa de acolhimento no interior de Pernambuco. Os dois foram recebidos com muita alegria pelas outras crianças e pelas pessoas que cuidaram deles no período. João saiu da casa com quatro anos e meio, mas ainda lembra do período que passou lá. "Esta é uma oportunidade de agradecer às pessoas por tudo que fizeram por nós", disse.
Lucas, que deixou o Brasil ainda mais novo, acredita que a ida dos irmãos para a Itália colaborou para o processo de adaptação: "É muito importante manter esse convívio". A mãe dos dois garotos, Elisa Sidari, contou que a viagem ao Brasil foi um pedido dos filhos. Eles irão conhecer outras cidades do País e pretendem visitar mais vezes o lugar em que nasceram. "O sentimento que eu tenho é de que não fui eu que adotei eles, mas o Brasil que me adotou", destacou a italiana.
A visita à instituição também foi acompanhada pela juíza Christiana Caribé, que na época era responsável pela 2ª Vara de Bezerros, na qual o processo de adoção tramitou. Segundo ela, a maioria das crianças e adolescentes que estão no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) faz parte de grandes grupos de irmãos. Porém, geralmente as pessoas querem adotar no máximo dois filhos.
No ano passado, outra dupla dos irmãos, Luan e Eduardo, esteve em Bezerros. Henrique, que foi o último a ser adotado pela terceira família da Itália, deve visitar a instituição de acolhimento posteriormente. Um dos casais que havia adotado dois dos irmãos tentou adotá-lo também, mas restrições da lei italiana não permitiram. Comovidos com a situação, as famílias procuraram e acharam o casal que adotou Henrique.
Quando fizeram o processo de adoção, os casais italianos se comprometeram em manter o vínculo entre os irmãos. O programa Famílias Solidárias, do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), tem como objetivo possibilitar a ampliação do perfil da criança ou adolescente a ser adotado, focando também em grupos de irmãos. O projeto foi implantado em 2012 pela 2ª Vara da Infância e Juventude da Capital, e acompanha as famílias que se dispõem a adotar crianças ou adolescentes que pertencem a um grupo de irmãos, depois que é verificada a impossibilidade de que todos sejam adotados por uma única família.
De acordo com o tribunal, a separação de irmãos é a última hipótese, e sempre são priorizadas as famílias que se comprometem a manter os irmãos em contato. O Enunciado 45, da Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ) estabelece que "a adoção internacional conjunta de grupos de irmãos em uma mesma família substituta estrangeira deve prevalecer à adoção nacional desmembrada desses irmãos". No caso dos meninos adotados pelos casais italianos, não havia pretendentes brasileiros que se comprometessem em manter a convivência entre eles.
Atualmente, as adoções internacionais são menos comuns. "Nós devemos priorizar que crianças e adolescentes brasileiros permaneçam na sua pátria, pois estão envolvidas questões como raça, cultura, língua e identidade. A adoção internacional requer um cuidado ainda maior", explica a juíza.
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